RORAIMA INDIGENA – 1976 (Parte 4)*

Hordas Bárbaras

Neste contexto em que o boi e o minério concentram os objetivos e os valores humanos, é claro que os índios devem aparecer na história de Roraima como “hordas bárbaras”, “hordas bravias que infesta as solidões do Pacaraima” e são os culpados de manterem “inacessíveis ao homem civilizado e em volta nos mistérios em os quais até hoje estão mergulhados” (RRR. 17).
Os índios Waimiri-Atroari que nos aceitam este tipo de relacionamento do branco, ficam estigmantizados constantemente como “ferozes”: provocados e fustigados com estradas e invasões de sua terra, terminam “maltrapilhos, famintos, enfermos, desajustados, desgraçados e irrecuperáveis” por se renderem com escravos para o resto de seus dias. (RRR 43).
Para a sujeição das tribos ao domínio e obediência do branco, todos os métodos são lícitos: a manipulação das tribos irmãs já submissas, as querelas internas entre clãs, as guerras rituais que se sucedem, por exemplo, entre os Ianomami; a violência aberta com armas superiores e o envio de expedições militares; a cachaça; o uso de missionários ingênuos que inconscientemente se prestam a abrir caminho para os interesses do branco. Assim diz o A.T. de Souza: “Portugal, havendo tomado posse da bacia do rio Branco, para cá enviou missionários, desde o século XVII, e muitas expedições militares e comerciais, a partir de 1725” (RRR, 21). Possivelmente se deve a esta presença ao lado das tropas invasoras, “a insurreição dos silvícolas de 1788”, contra os missionários carmelitas, na qual pereceram aqueles missionários, desaparecendo por completo a sua Missão” (RRR, 38). Desta forma, a observação de Darcy Ribeiro contém verdade: “A catequese que é habitualmente feita com a finalidade religiosa, que justifica a existência de missões daquela natureza, cede lugar às ambições de conquistas”.

Vítima das fronteiras

O indio foi instrumentalizado por venezuelanos ou espanhóis, ou portugueses e ingleses, a colaborar ele mesmo na divisão e retalhamento de seu território limites, através das demarcações das fronteiras. Perdido no meio de todos estes limites, ele continua inconscientemente o mesmo hoje, demarcando as fazendas, levantando marcos e cercas. Nunca o índio foi e está sendo consultado, em Roraima, sobre o estabelecimento dos limites de seus terras, nem mesmo quando mesmo quando a FUNAI lhe demarca um território.
Para os Fortes das fronteiras, portugueses, espanhóis e ingleses sempre se utilizaram de milicianos indígenas ao lado de suas tropas regulares. Assim, por exemplo, a guarnição da tropa portuguesa do Forte São Joaquim dos rios Itacutu e Uraricoera, em 1780, era composta de “trinta soldados regulares e muitos milicianos indígenas”. Ate os territórios dos índios ainda não contactados já estavam sob este jogo de interesses daquelas nações européias (RRR, 20).

*Quarta parte do relatório que fiz, em 1976, sobre a situaçao indígena em Roraima.
Veja o restante do relatório: Primeira, Segunda, Terceira, Quarta.

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