DIFICULDADES ENFRENTADAS PARA A CRIAÇÃO DO CIMI - Egydio Schwade

 Estávamos casualmente juntos, (Thomaz Lisboa, Adalberto Pereira e eu, em Diamantino, Mato Grosso/1971, quando recebemos a carta-convite do Pe. João Mometti, Secretário Nacional de Atividade Missionária-SNAM, da CNBB, para participarmos de mais uma reunião de missionários das prelazias e dioceses, com pastoral indigenista, a se realizar em Brasília, entre 22 e 25 de abril de 1972. P. Mometti acabara de chegar de um curso de Missionologia em Roma e estava totalmente por fora dos dois encontros anteriores de missionários convocados pelo SNAM, - Morumbi e Campo Grande a partir dos quais se se começou a urgir a criação e um instrumento que coordenasse das atividades e que garantisse mais unidade na ação indigenista da Igreja. Naquele momento eu era um dos coordenadores da OPAN que havia criado em fevereiro de 1969. Primeira ONG indigenista.

Nos revoltamos contra a agenda prevista para o encontro de Brasília e nos dirigimos a D. Henrique, Bispo de Diamantino, que estava de malas prontas para ir ao encontro dos Bispos do Regional Mato Grosso, que se realizaria em Campo Grande. Manifestamos a ele a nossa insatisfação frente a agenda e ele nos disse na hora: “Então vocês dois, (e apontou para Thomaz Lisboa e para mim), se preparem e vão comigo”. Aceitamos o convite. 

D. Henrique apresentou aos bispos do regional a nossa preocupação. Estes nos encarregaram então de redigir uma nova proposta para a reunião do SNAM de Brasília que incluísse a criação de um instrumento que dinamizasse a atividade missionária da Igreja Católica das missões indígenas, com uma visão nacional da questão.

A nota foi aprovada e publicada no Observatório Romano, órgão de comunicação do Vaticano e SEDOC. Apesar disso, não foi aceita pelo coordenador do SNAM. Em Brasília, se perderam dois dias em discussões vazias, com assuntos já consensuais e tratados nas reuniões anteriores e com um grupo insistindo inútilmente para que se encaminhasse a agenda proposta pelos bispos do Regional Mato Grosso. Diante da insistência destes, que já se tornara maioria, amargurado, o Pe. Mometti abandonou o encontro. Me solicitaram então que assumisse a coordenação. Diante do pouco tempo que restava, fomos logo ao assunto central: a criação de um órgão que coordenasse os novos rumos da pastoral da Igreja, conforme incentivado pelo Concílio Vaticano II. D. Sigaud, bispo de Diamantina/MG, considerado um dos bispos mais reacionários do país, se ofereceu para secretariar. E assim rapidamente chegamos a um consenso sobre o assunto e a criação do CIMI, foi decidida sem demora e escolhido ali mesmo o primeiro Conselho assim constituído: Presidente:  Ângelo Venturelli, salesiano, Vice: José Vicente César, Verbo Divino, demais membros: D. Henrique Froehlich, Adalberto Pereira e Thomaz Lisboa, jesuítas, Casemiro Beksta,  salesiano e Ir. Sílvia Wewering, das Servas Mis. Do Espírito Santo.

D, Tomás. já vinha sendo citado em nossas reuniões anteriores como um decidido apoiador da pastoral indigenista transformadora de acordo com as linhas traçadas pelo Concílio. Na primeira em Morumbi/fev. de 1968, mesmo sem estar presente, foi proposto para Bispo Pessoal dos Índios, cargo que não aceitou porque discordava da proposta, o que no seguimento se mostrou certo. 

O primeiro Conselho foi constituído de pessoas importantes da Igreja Missionária de toda a Amazônia. Todos experts na questão indígena. Alguns com livros publicados sobre o assunto. Como 3 deles eram jesuítas, membros da Prelazia de Diamantino/MT: D. Henrique, Pe. Adalberto Pereira e P. Thomaz Lisboa, nós jesuítas desta Prelazia nos reunimos e questionamos esta situação e propusemos a D. Henrique que cedesse a sua vaga no Conselho a D.Tomás. D.Henrique gostou da ideia, aceitando a proposta. D. Tomás, porém, só aceitaria mediante anuência do plenário. Convocamos imediatamente o plenário que a aceitou por unanimidade. Foi assim que D. Tomás entrou no CIMI, uma enorme conquista daquele momento importante para a História da Igreja no Brasil.

Se a equipe da OPAN que um ano e meio depois ocupou o secretariado do CIMI, fazendo junto com o seminarista redentorista, Valber Dias Barbosa e o Pe. Antônio Iasi, foi decisiva para a propagação e amarração dos trabalhos do CIMI, pela ampla presença permanente nas bases, D.Tomás e sua equipe de pastoral da Diocese de Goiás, foi determinante para mudar as mentes missionarias, rumo ao Concílio, nos encontros de Pastoral indigenista que se seguiram na formação dos Regionais do CIMI, que entre 1974 e 1978, cobriram todo o País.

Casa da Cultura do Urubuí, 11 de abril de 2022, 

Egydio Schwade


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