VAMOS INVESTIR NO PARTIDO DOS TRABALHADORES - I


Companheiros(as) do Partido dos Trabalhadores,
Os recentes acontecimentos no Brasil nos demonstram que os governos do PT, apesar de seus erros, abalaram o poder político da Casa Grande que desde 1500 domina o povo brasileiro. Mas não podemos nos iludir. A situação interna do nosso partido não está boa. Necessita de uma autocritica e de mudanças. Tenho a convicção de que a situação interna não está boa principalmente por conta dos erros e desvios e das decisões autoritárias da corrente dominante, atrás da sua ânsia de poder. Para manter sua hegemonia, dentro do partido, fez alianças com a direita, desprezando a opinião dos(as) companheiros(as). E por conta disso não pode realizar o programa do PT: Reforma Agrária, Fome Zero, politica a favor das classes historicamente oprimidas: índios, quilombolas, combate aos depredadores da natureza... Acho que esses anseios dos que participaram desde a sua origem da caminhada petista precisam ser conhecidos e a partir daí chegarmos a um entendimento, unindo as correntes do PT e das esquerdas. Muitas vezes tive a tentação de abandonar o partido, como tantos excelentes companheiros o fizeram que hoje fazem enorme falta aqui no Norte. Aloysio Nogueira, Osvaldo Coelho, Marcus Barros, Edimilson, para citar apenas alguns que nos deixaram por conta desses desvios. Tambem passei por esta vontade de deixar o PT. O que me fez ficar foi a convicção de que organizar um partido como o do PT foi organizado, dificilmente se fará de novo. Então melhor ou mais conveniente é lutar dentro para superar os desvios com sinceridade e dureza.
Como participante desde a sua criação, aqui no Amazonas, vou falar aqui de minha participação e das dificuldades que vivo no PT. Tenho tido quase toda a minha educação na Igreja, instituição onde prevalece a alienação e a submissão ao Estado. Mas a partir do meu curso de Filosofia, em 1962, com o Concilio Vaticano II em curso, apontando para uma nova definição da Igreja, a Igreja como Povo, começou a crescer dentro de mim a convicção que ao invés de seguir pelo caminho da universidade, uma instituição também alienante e doutrinadora, preparando gente para manter o sofisticado esquema da Casa Grande, fui trabalhar no Noroeste de Mato Grosso com os indígenas.
Iniciei o meu trabalho indigenista no Internato dos jesuítas em Utiariti que não seguia outro método que o do Estado, da Casa Grande. Tanto assim que durante o ano que ali vivi, recebi a visita do Superintendente Regional do SPI-Serviço de Proteção aos Indios de Cuiabá, o qual gostou do meu trabalho ao ponto de trazer um grupo de Xavantes e Bororos dos postos do SPI para estudarem comigo durante aquele ano. O objetivo do SPI era a integração do índio ao modelo instalado no país desde 1500. Mas, acompanhando as novas orientações do Concilio Vaticano II (1962-65), com o conceito de Igreja como sendo o Povo de Deus, senti a necessidade de mudanças radicais nas missões católicas, ou seja, a urgente necessidade de acabar com todo o tipo de catequese, não apenas a religiosa, mas também a econômica e integracionista. Foi o que me levou a participar da organização de novos métodos e novos instrumentos de orientação dos trabalhos indigenistas. Já em fevereiro de 1969 criei a OPAN-Operação Amazônia Nativa, primeira ONG indigenista, hoje com sede em Cuiabá, cujos membros tem como primeiro objetivo “encarnar-se na realidade indígena”, sem doutrinação alguma. Em seguida, 1972, participei da fundação do CIMI-Conselho Indigenista Missionário, do qual fui Secretario Executivo até 1980. Este segue pelo mesmo caminho, acabando com a doutrinação dos indígenas, mas apoiando à reconquista de sua terra, a retomada da sua cultura e de sua autodeterminação. Adiante, em 1975, participei tambem da criação da CPT-Comissão Pastoral da Terra, uma força em expansão no meio dos pequenos agricultores injustiçados e perseguidos pelo latifúndio. Ainda, como Secretário do CIMI, colaborei na criação de outros instrumentos de luta indigenista, como da ANAI-Associação Nacional de Apoio ao Indio/RS, da Comissão Pró-Indio/SP, do Grupo da Questão Indigena/MG e do Grupo Kukuru de Apoio ao Indio/AM. Todas estas entidades são ou foram instrumentos de luta dos trabalhadores e dos povos oprimidos do interior e todas se envolveram na formação política do povo, um dos meios de que nos valemos para levar a massa trabalhadora do campo a juntar força política na criação e desenvolvimento do PT.
Em 1980 vim com a família morar no Amazonas, inicialmente em Itacoatiara e depois em Presidente Figueiredo, visando um trabalho junto ao povo Waimiri-Atroari. Impedido pela Ditadura Militar de entrar nas áreas indígenas do país, devido às minhas frequentes críticas à Politica Indigenista do Governo, quando Secretário do CIMI, fomos morar em Itacoatiara, fora da Reserva. Ali participamos da luta politica popular das comunidades não-indígenas: Sindicato dos Trabalhadores Rurais e CEBs-Comunidades Eclesiais de Base e mantendo encontros clandestinos com aldeias Waimiri-Atroari.  .
Quase simultaneamente à nossa chegada a Itacoatiara, começou a fervilhar o início do PT a nível nacional, estadual e municipal. Minha esposa e eu participamos intensamente. Muitas reuniões de articulação se realizaram em nossa casinha de madeira, no bairro Iraci. Nossa participação foi reconhecida a nível estadual a ponto de uma comissão, à frente Osvaldo Coelho, candidato a Governador, me convidar, em 1982, para ser o candidato a vice-governador. Recusei, pois era apenas recém chegado. Mas junto com José Ribamar Bessa e Marcio Souza colaborei na elaboração do 1º. Programa de Politica Indigenista para o PT Nacional, integralmente aprovado.
Sempre nos mantivemos ligados ao movimento popular do interior que aqui na Amazônia tinha como principais expressões os movimentos ligados à Igreja: CEBs, CPT, CIMI e OPAN que foram e continuam sendo instrumentos de luta política, com sua estratégia própria, distinta da usada pelos tradicionais partidos políticos de esquerda. Esta diversidade se desenvolveu a partir do governo Jango, com o Movimento de Educação de Base-MEB, atrás do método Paulo Freire. Um método que não foi tomada em conta e respeitado pelos dirigentes urbanos majoritários do PT, tendentes, em sua maioria, aos velhos modelos políticos de esquerda, pouco democráticos e trazidos de fora que foram se impondo e abafando a organização do PT no interior, em especial, aqui na Amazonia.
Concretamente, ainda sobre a nossa caminha aqui. Com a queda da Ditadura Militar alguns dirigentes da FUNAI tentaram mudar a política indigenista do órgão, iniciando com os Waimiri-Atroari. Ao invés de conflitar com as entidades da sociedade civil que apoiavam a luta dos índios, como o fazia a Ditadura Militar, propuseram criar grupos de trabalho integrando nelas pessoas desses órgãos. No caso Waimiri-Atroari, já no segundo mês após o fim da Ditadura, fomos chamados a integrar um Grupo de Trabalho-GT encarregado de fazer um amplo levantamento da situação desses índios para propor uma reorientação do trabalho. O GT integrou: FUNAI, CIMI, OPAN e Universidades, entidades que já acompanhavam a situação desse povo. Infelizmente o grupo da FUNAI integrou dois filhotes da Ditadura, Sebastião Amâncio e José porfírio de Carvalho, o 1º. Um repressor declalrado dos índios e o 2º. um perseguidor da OPAN e do CIMI durante o  Regime Militar.
Após meio ano de atividades na área, em uma reunião realizada no início de julho/1985, na aldeia Yawará, o GT apresentou a sua proposta de trabalho e os índios a sua urgência maior: Queriam ser alfabetizados. Nos oferecemos para isso e já no início de setembro de 1985, com autorização do Presidente da FUNAI, iniciamos o trabalho. A aldeia ficou deslumbrada quando constataram que a sua língua materna podia ser escrita. Todos participavam das aulas, inclusive os bebês. E contagiou outras aldeias, como Xeri e aldeias do Baixo Camanaú que enviaram representantes para a escola na aldeia Yawara. Conduzido no método Paulo Freire o processo de alfabetização trouxe à tona a situação e história recente do povo Waimiri-Atroari. E já em março do ano seguinte, 1986, os lideres das aldeias Yawara e Xeri que haviam sido convidados por dirigentes da FUNAI para uma reunião em Brasília entregaram um documento ao Presidente da República, José Sarney, reclamando da ação da mineradora Paranapanema que vinha invadindo a sua área.
A partir daquele mês começou e a ser demolido o programa organizado pelo GT. A interferência começou pela repressão ao nosso trabalho de alfabetização. Sarney, figura central da Ditadura Militar, já havia então substituído o presidente da FUNAI, Gerson Alves por Romero Jucá, individuo alheio aos interesses indígenas, mas a serviço dos interesses empresas muiltinacionais. Atendendo aos reclamos das empresas Paranapanema e Eletronorte, tendo como assessor imediato, Porfírio de Carvalho e o Superintendente da FUNAI no Amazonas, Sebastião Amâncio, ambos velhas raposas da Ditadura Militar, interromperam no nosso trabalho de alfabetização,  contra o parecer técnico do linguista da FUNAI, enviado por Jucá para fiscalizar, durante um mês, o nosso trabalho que em seu relatório conclusivo, recomendava:
“A experiência que está sendo levada avante no PV Terraplanagem (Aldeia Yawará) deverá ser estendida aos outros grupos Atroaris (Xeri, Baixo e Alto Alalaú) e Waimiris se possível sob orientação dos professores da escola Yauará, (Egydio e Doroti) porque são pessoas comprometidas vitalmente com a causa desse povo. Cumpre-me enfatizar que não percebi qualquer forma de proselitismo religioso ou interferência cultural por parte dos professores. Estão, sim, empenhados em recuperar e valorizar os costumes, crenças e festas típicas desse povo através de sua ação pedagógica. O processo pedagógico demanda um tempo prolongado, assim sendo, é necessário que os atuais professores do PV Terraplanagem sejam apoiados e que se se necessitar de um convenio com o CIMI para garantir sua presença, que o mesmo seja assinado. Assim a FUNAI estará prestando um serviço à causa dos Waimiri-Atroari.”
De volta ao município de Presidente Figueiredo, sofremos de imediato uma campanha de difamação, conduzida pelo jornal O ESTADO DE SÃO PAULO e financiado pela Mineração Paranapanema, onde entre outras calunias o Jornal nos apresentou como estrangeiros a serviço de mineradoras do Sul da Ásia.
Foi então que de 15 em 15 dias nos dirigimos a alguma família de pequuenos agricultores do interior do município, onde durante uma ano, nos reuníamos com a vizinhança para discutir a política brasileira e mundial, com esta classe a mais abandonada da região, em vista da organização do Partido dos Trabalhadores, que efetivamente nasceu no municipio no dia 4 de outubro de 1987, em reunião realizada na casa de um agricultor da estrada de Balbina, Km 41. Na mesma estrada poucos meses depois os 56 fundadores do PT de Presidente Figueiredo, foram as únicas “autoridades” que tiveram coragem de receber, acompanhadas de suas famílias, aquele “comunista barbudo”, Luiz Inácio Lula da Silva, então candidato, já no segundo turno, das eleições presidenciais de 1989.
Casa da Cultura do Urubuí, 27 de maio de 2018,
Egydio Schwade.

Ato em Presidente Figueiredo em apoio à candidatura de Lula para a presidência.

E VIVA LULA LIVRE PRESIDENTE!

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