Jesus não era um Suicida

“Jesus não era um suicida”, assim me falou uma vez minha mãe, Doroti Alice Müller Schwade. Ela falava isso porque sentia que as pessoas colocavam a morte de Jesus como algo que simplesmente tinha que acontecer e que por si só resolvia o problema do mundo, acabava com o pecado. Que depois disso o mundo estava automaticamente “salvo”.

O que ficou em minha consciência com os dizeres dela foi que Jesus não fez o que fez para morrer. Ele sabia que ia morrer, e enfrentou isso. Mas sabia que ia morrer porque as pessoas tinham medo de denunciar e se contrapor à violência, as injustiças, a opressão, a dominação de uns sobre os outros, as ações que levam ao sofrimento dos outros. Nestas condições, a última esperança era que as pessoas, ao tomar consciência que um inocente morreu por sua covardia, e que este inocente morreu por manter até o fim sua luta e sua denúncia às agressões cometidas contra o próprio povo, batessem no peito, se envergonhasse de suas ações que levam ao sofrimento dos outros (pecado) e da covardia que leva ao não combate a essas ações, redirecionasse sua vida por caminhos de verdade e justiça. Ele tinha a esperança que a partir daí mais pessoas lutassem para a construção do reino de Deus na Terra.

Isso aconteceu em certa medida. Muitos se converteram e se encorajaram. Mas muitos ainda precisaram ser mortos. E muitos ainda são mortos hoje por sua coragem de denunciar as injustiças e a opressão (portanto, denunciar o pecado), e por nossa covardia. Por isso, na semana santa minhas orações são para que a coragem de Jesus, de Chico Mendes, dos muitos Kiña (Waimirí-Atroari), e de tantos outros Mártires ressuscitem um pouco em mim e em mais e mais pessoas. Porque eles não eram suicidas, não queriam morrer e só quando não nos acovardarmos mais é que inocentes não precisarão doar suas vidas.

Maurício Adu Schwade
Paróquia de Santos Mártires e Nossa Senhora Aparecida, 29 de março de 2013

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