E a Vida os e-levou

Laila amarra a fita preta em meu braço. Faço o mesmo com relação a ela. E os mais de 200 presentes da Assembléia Legislativa do Mato Grosso do Sul fazem o mesmo gesto de compromisso com a vida e a justiça, contra a violência, pela terra e pela paz, em luto pelo covarde assassinato do cacique Nisio Gomes Kaiowá Gurani, do Guaiviry e o roubo e ocultamento de seu corpo. Dentre os presentes estava Egidio Brunetto, que três dias depois teria sua vida tragicamente ceifada. Ao dar-lhe um abraço, ele foi logo perguntando “Está tudo certo! Segunda feira estarei lá na região da fronteira.”
Hoje Egidio está retornando à fronteira conquistada, chão em que foi assentado, e onde agora será plantado para se tornar semente e força na luta pela terra e a justiça, para sempre. Eterna fronteira, onde sua imagem e exemplo florescerão, e os frutos da terra alimentarão de pão e esperança todos os lutadores da solidariedade e da Vida, de uma nova sociedade.
Já na outra fronteira, com o Paraguai, a marcha indígena contra o genocídio Guarani Kaiowá, da qual Egidio queria participar, está acontecendo, agora com a força da memória de todos os lutadores, e em especial de Nisio e Egidio, que a vida levou para outra dimensão de futuro. Fui me despedir de Egidio na sede do MST. As bandeiras da Via Campesina e do MST envolvia o caixão. Já de Nisio, a despedida terá que ser silenciosa, distante, na memória e lembrança bonita de seu sorriso e sua luta, pois seu corpo ainda não foi localizado.
Egon Heck
Povo Guarani Grande Povo
Cimi 40 anos, equipe Dourados, 30 de novembro 2011

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