Doro: uma Chama Viva

Vida e Histórias de Doroti Schwade: Texto 12

O que posso escrever de Doro? Tantas coisas! Gostaria de relacionar algumas delas a seguir, como meu sacramento do Crisma para o qual, na época, Doroti e Egydio eram responsáveis pelo catecismo preparatório. Ela sempre dizia “essa é a hora em que vocês estão confirmando o batismo, confirmando a fé em Deus” 

Era realmente a nossa hora, a hora de firmar o nosso compromisso com Deus e com os menos favorecidos. Os Encontros, os Retiros, eram uma explosão de conhecimento de fé, de elucidação de experiências comuns como, por exemplo, saber a importância da água, a água que é um fator importante pra vida humano nesses Retiros na zona rural. A água era importante para o banho, para beber e também pra a preparação dos alimentos; O fogo; as refeições eram feitas através de um fogo a lenha no chão, um pequeno braseiro. O feijão cozido ali naquele momento tornava a comida mais saborosa, pois ela envolvia-nos em diversas questões onde até o fogo mantinha acesa as chamas do Espírito Santo em nossos corações. Eu a tenho como uma querida amiga que ficou em meu coração. Lembro-me das vezes que íamos aos domingos de manhã freqüentar a comunidade no Ramal do Urubuí e partilhávamos a convivência com as demais pessoas. Certa vez ela me disse “quem sabe um dia esse ramal ainda não se torne uma Comunidade Eclesial de Base”. Lembro-me que o convívio com ela me enchia de entusiasmo e ânimo e ao mesmo tempo ela tinha o dom de passar conhecimento empírico, pois ela sabia conviver harmonicamente com todos os tipos de conhecimento e estender isso as demais pessoas. A religião naquele momento era um instrumento para tirar escamas dos olhos, desvendar, questionar e não ficar alienante a Deus e sim usá-lo como instrumento de libertação a todas as angústias da vida. Deus nunca foi instrumento de opressão. Ela conseguia trazer Deus tão perto de nós. Ele nunca foi o meu ópio... E então ela dizia: “Deus jamais tem que ser ópio do povo...” 

É preciso ressaltar a grande contribuição que Doroti e Egydio deram a tantos jovens Figueiredenses á frente do Crisma, um valor inestimável usar Deus e fazer conexões simples, claras e objetivas com Historia, Geografia, Atualidades e uso Consciente dos Recursos Naturais. Enfim, Deus era sempre usado como instrumento de libertação e nunca como ópio... 

Sempre me dava conselhos excelentes nessa época. Eu tinha acabado de terminar o ensino médio aqui em Figueiredo, era uma jovem de 18 anos sem expectativas, sem perspectivas. Não me enquadrava nos moldes de escolarização, pois sei que os jovens são estigmatizados pelo nível de escolarização. Mas por outro lado aquela época de convívio e de experiência eu sei que não conseguiria absorver em nenhuma universidade/faculdade/escola, pois naquele momento a minha grande mestre foi Doroti. Li livros maravilhosos, conheci a questão indígena, conheci a permacultura e ficou plantado dentro de mim uma sementinha que mais cedo ou mais tarde irá brotar, pois outra frase me marcou: "temos que marcar história". Você marcou a minha vida e a minha história. 

Querida, não tive coragem de lhe ver de olhos fechados, pois pra mim você esta viva. Tão viva como a chama daquele fogo, o modelo das chamas que traziam Luz, Calor, Clarão de vida, exemplo que estava ali em nossa frente, o pequeno braseiro. Você foi uma grande chama. Representou de maneira tão singela as ligações de Fé, Espiritualidade, Convívio e Partilha no pouco tempo que passei em sua companhia.

Por Marcela Aquino

Comentários

  1. Marcela,
    Muito bonita esta sua mensagem para a minha mãe. Acho que ela se sentiria muito feliz em saber que seus ensinamentos de amor ao próximo foram ouvidos e geraram frutos. Abração

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