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Mostrando postagens de fevereiro, 2011

Barragem no Tietê: Esperança aos Paulistanos

No dia 27 de janeiro de 2011 a mídia nacional divulgou a seguinte notícia: “Pesquisa indica que 51% dos paulistanos querem se mudar de São Paulo e o fariam se pudessem” (O Estado de São Paulo). Demonstração óbvia de uma trágica tendência: os paulistanos não crêem mais no futuro de sua cidade. Chegando a São Paulo de avião nos defrontamos com uma enorme chaga na mãe-terra. Quem assiste noticiários de TV ou Rádio, ou navega pela internet, testemunha que qualquer chuva forte faz São Paulo atolar na merda, transformando muitos irmãos paulistanos na constrangedora situação de escaravelhos. E a cada ano que passa o fenômeno vem se repetindo com mais freqüência. Entretanto, para os Governos e para boa parte da sociedade urbana iludida e alienada, aquilo é a “locomotiva” do Brasil. Mas, a maioria dos paulistanos, principalmente os pobres, encara, a triste realidade, profetizando o fim próximo da “locomotiva”. Não vê ali futuro para si e seus filhos. Infelizmente, o Governo não vai de encontro

Vida e Histórias de Doroti Schwade: Texto 3

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Texto de Doroti Alice Müller Schwade de março de 1986 para a 1ª.Conferencia Nacional de Saúde Indígena. Proteção à Saúde do Índio A História das Américas e o Brasil não é exceção, é uma História de saques de depredação, de “veias abertas”. As vitimas primeiras e maiores: os povos indígenas. E o que tem isto a ver com a saúde dos povos indígenas? Tudo. A saúde deixa de existir quando há desestruturação social, desequilíbrio ecológico, agressão ao “habitat”, tudo isto acrescido à contaminação por vírus, bactérias, fungos e parasitas, os mais diversos, desconhecidos, até então, pelos povos indígenas. Podemos citar como exemplos: as viroses variadas, as pneumonias, a malária, as diarréias, a verminose, a hanseníase, etc. Este quadro é agravado pela falta de conhecimento, por parte das comunidades indígenas dos mecanismos de transmissão, tratamento e cura das supra-citadas doenças, pelo fato delas serem desconhecidas desses povos. Por isto, as epidemias foram e são ao longo destes séculos d

Vida e Histórias de Doroti Schwade: Texto 2

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Estamos publicando semanalmente neste blog textos, documentos e depoimentos que ajudam a lembrar e divulgar a história de Doroti. Esta semana publicamos texto escrito por Luzia Müller, irmã de Doroti, contando episódios da sua infância. Gostaríamos de convidar novamente a todos os amigos que conviveram com ela e se sintam a vontade e felizes em registrar algo, que nos enviem seus textos. Pretendemos juntar e sistematizar posteriormente todo o material que conseguirmos sobre ela, mas não como uma história morta e sim como uma história viva, que contenha as emoções, sensações e sentimentos de todos. Os textos mais apropriados para o blog também vão ser publicados neste espaço que inauguramos hoje. Vosso material pode ser enviado para egydio.schwade@gmail.com ou mauadu@gmail.com. Alguns episódios da infância da Doroti Algo que tenho até hoje na lembrança é a visão de nosso pai com uma malinha na mão e Doroti no colo. Era uma noite escura de inverno. Nossa irmã Regina mal havia nascido e m

Fora Amazonino!

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Hoje, ao chegar em casa, acesso o twitter pelo celular e me deparo com algumas mensagens indignadas com o Amazonino. Até então, nenhuma novidade. Numa delas, havia um link para o YouTube e assisti ao vídeo que realmente justifica as mensagens que eu havia lido. O vídeo retrata o prefeito de Manaus, Amazonino Mendes, no auge do seu descontrole “sugerindo” para a moradora de uma área de risco que “Morra” por três vezes (igual a Pedro negando Jesus) depois desta ter dito que morava ali por não ter opção. Não satisfeito, pergunta sua origem e ao ouvir “sou do Pará” solta: “pronto, tá explicado!”. E entendo a indignação dos tuiteiros e promovo o assunto para meus poucos seguidores. E me motivo a escrever um registro para o blog. Minha primeira reação foi uma indignação do tamanho dos problemas que a cidade enfrenta por omissão e incapacidade de gestão pública. Como pode uma reação dessas? Vi que a repercussão já conta no mínimo com Globo, Folha, G1, UOL, etc. que, embora eu t

2000 Waimiri-Atroari Desaparecidos na Ditadura

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É justo e necessário o país se mobilizar pelos desaparecidos políticos da Ditadura Militar no Brasil (1964-1984). Entretanto, por que não há o mesmo interesse na busca dos índios desaparecidos durante a Ditadura Militar por se oporem a política do governo sobre seus territórios? Em 1968, o Governo Militar invadiu com a rodovia BR-174, Manaus – Boa-Vista, o território Kiña (Waimiri-Atroari). Em 1975, pelo menos 2000 pessoas já haviam desaparecido, todos pertencentes ao povo Kiña. Isso porque se opunham ao processo de invasão de seu território imposto pelos Militares. O massacre ocorreu em etapas. Na primeira delas quem esteve a frente da construção da rodovia foi o Departamento de Estradas e Rodagem / Amazonas (DER/AM). Os relatórios mensais dos trabalhos sempre se faziam acompanhar com pedidos de armas e munição como este: “Vimos pelo presente, solicitar seu especial obséquio no sentido de ser expedida pelo S.F.I.D.T., uma autorização para compra de 6 revólveres “Taurus” calibre 38

Semente na Terra

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No último sábado, dia 12 de fevereiro, nossa família e amigos se reuniram para colocar a cruz no local onde foi sepultado o corpo de nossa querida mãe Doroti. Como lembrou nosso pai Egydio, Dorô sempre se preocupou em assumir sua cruz, nunca escolhendo os caminhos mais fáceis e sempre buscando ser coerente com sua fé. Foi um momento de oração e agradecimento a Deus pela sua vida, e por ter-nos deixado conviver com está pessoa tão amada e querida por todos nós. A cruz foi construída pelos próprios filhos, entalhada em madeira e decorada com algumas das coisas que ela gostava ou que fizeram parte da sua vida. Assim, a cutia, uma das grandes plantadoras de castanha da floresta, as flores, a panela no fogo e o pé de cará estão lá representados. Também foi escrito, no verso da cruz, o trecho de uma música: “Põe a semente na terra, não será em vão! Não te preocupe a colheita, plantas para o irmão”, que retrata bem sua passagem pelos povos indígenas e Comunidades Eclesiais de Base e, também

DOROTI: EROINA DEL VANGELO

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“Nata in una famiglia umile di Blumenau/SC (Brasile), ha tracciato la sua strada dal sud del Brasile verso il nord, sempre cercando di difendere il diritto degli esclusi e, in modo speciale, dei popoli indigeni, per finire i suoi giorni di percorso sulla terra come moltiplicatrice, costruttrice e stimolatrice di forme di agricoltura che rispettino la natura e la gente.”. “Doro nacque l´8 maggio 1948. A 13 anni cominció a lavorare nel commercio della cittá per aiutare nelle finanze della famiglia. A 15 anni firmó il suo primo libretto di lavoro. Fece le elementari e il liceo scientifico nella scuola pubblica, e poi la facoltá di pedagogia. Fin da piccola si era proposta di dedicare la vita ai piú poveri, pensando all´inizio di andare come missionaria laica in Africa. Partecipó al movimento giovane della Chiesa Cattolica e fu scelta, nel 1973, tra un gruppo di giovani che rappresentó lo Stato di Santa Caterina in un incontro latino-americano in Paraguay. Nel viaggio di ritorno co

Casa da Cultura do Urubuí

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Entre as décadas de 1970 e 90, o casal Egydio Schwade e Doroti Alice Müller Schwade (ele Gaúcho e ela Catarinense), se fixou nessa região entre o Sul de Roraima e Norte do Amazonas para apoiar o povo Waimiri-Atroari. Acabaram vivendo intensamente o drama que passavam as populações indígenas e camponeses da região. Atuaram no Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e Operação Amazônia Nativa (OPAN), no MAREWA (Movimento de Apoio à Resistência Waimiri-Atroari), no Sindicato dos Trabalhadores Rurais e no Partido dos Trabalhadores (PT). Ao longo dessa caminhada foram guardando muitos dados que atualmente compõe um arquivo que é o mais completo sobre a região. São documentos raros sobre a construção da BR-174, da Hidrelétrica de Balbina, a instalação da Mineradora de Pitinga, dos latifúndios grilados e história do povo Waimiri-Atroari. “Desde a criação do município sentimos o empenho das autoridades no sentido de evitarem a história da região: nenhum documento, nenhuma sala destinada à

Vida e Histórias de Doroti Schwade: Texto 1

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Doroti Alice Müller Schwade é um exemplo de vida que inspira e fortalece aqueles que acreditam e lutam para a construção de um mundo mais justo e fraterno. Nascida numa família humilde da cidade de Blumenau/SC, traçou seu caminho de sul a norte do Brasil, sempre procurando defender o direito das populações excluídas deste país e, em especial, dos povos indígenas, tendo terminando seus dias de caminhada sobre a Terra como multiplicadora, construtora e incentivadora de formas de agricultura que respeitam a natureza e as pessoas. As histórias desta caminhada bonita e heróica devem, por isso, ser lembradas. E é por este motivo que iniciaremos hoje a publicar semanalmente neste blog textos, documentos e depoimentos que ajudam a lembrar e divulgar esta história.Antes de iniciarmos, partindo de uma rápida síntese da trajetória de Doroti, queríamos convidar a todos os amigos que conviveram com ela e se sintam a vontade e felizes em registrar algo, que nos enviem seus textos. Pretendemos juntar

Hidrelétrica de Belo Monte: como compreender suas conseqüências*

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Quando ouvimos as informações mais fortemente propagadas sobre as hidrelétricas de Belo Monte, temos a impressão de que o impasse a respeito do projeto se dá por conta da oposição de ambientalista a implantação das obras (Ambientalistas X Desenvolvimentistas). O que não fica claro é a oposição que povos indígenas, populações camponesas e parceiros estão travando em defesa de seus territórios. Para compreender esta oposição, peço ao leitor que se imagine em sua comunidade. Aí, você desenvolve suas articulações sociais, onde fome e degradação ambiental são termos exóticos. Esse lugar encerra todas as suas redes sociais, contém seus templos religiosos, sua história e a história de seu povo. De repente, um país estrangeiro anuncia que necessita desse seu lugar para alimentar as necessidades crescentes de seus príncipes. Eles pedem que você e seus vizinhos se mudem dali. Você não compreende os motivos, mas eles te explicam que isso tudo será necessário para o otnemivlovnesed . Mas otnemivl

Carta do sertanista Odenir Pinto de Oliveira ao Presidente da Funai

Senhor Márcio Meira Presidente da FUNAI C/c Ministro da Justiça Márcio Meira, Parece que foi ontem, mas foi em novembro de 1979 que o coronel João Carlos Nobre da Veiga assumiu a presidência da FUNAI. Nobre da Veiga entrou dizendo que o Órgão era “um mar de lama” e, junto com o seu principal assessor, coronel Ivan Zanoni, deu início a uma série de mudanças que permitisse uma “nova FUNAI”. Muitas delas com forte conotação político/ideológica, respaldadas nas teorias de estratégia militar tão bem defendida pelo seu principal assessor, inclusive com livro publicado. Dentro da FUNAI, Nobre da Veiga tomou as seguintes providências – pelo menos as que ficaram mais conhecidas: a) Demite, já de começo, 39 indigenistas por serem “subversivos” e porque precisava mudar o paradigma do “indigenismo oficial”; b) Reestrutura administrativamente o Órgão com esse objetivo e para “fortalecer as unidades regionais”; c) Incrementa o projeto de emancipação compulsória dos indígenas, criando os famosos “cri

Nenhum Estado Suporta a Autonomia

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Com o titulo “Pequenas e Médias Cidades na Amazônia”, Fase e Universidade Federal do Pará publicaram, recentemente, um livro que aborda a urbanização da Amazônia. O primeiro capítulo, da geógrafa Elis Miranda, trata do projeto de Pombal, pai da urbanização na Amazônia, em confronto com os aldeamentos dos jesuítas do século XVIII. Atrevo-me a abrir o leque de opiniões, análises e interpretações correntes da história amazônica. Os missionários jesuítas do período colonial, (distingo aqui os missionários jesuítas dos professores jesuítas de colégios e de universidades, porque enquanto estes eram funcionários de instituições, aqueles procuravam realizar uma vocação ou missão junto a um povo), portugueses ou não, todos vieram para o Brasil em naus dos governos colonialistas. Isto lhes tirava a autonomia e a liberdade no trabalho com os povos indígenas, esses povos autônomos das Américas. Entretanto, a Ordem Jesuítica convoca periodicamente Congregações Gerais para avaliar os impasses que