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Mostrando postagens de setembro, 2011

Mais um golpe contra os povos indígenas

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NOTA PÚBLICA OPAN considera um risco ver parlamentares que incentivam zoneamento ruralista e exclusão de terras indígenas criarem grupo para rever demarcações. Cuiabá, MT – A Operação Amazônia Nativa (OPAN), organização que apoia os direitos dos povos indígenas, vem a público manifestar preocupação com a notícia que a Assembleia Legislativa e o governo de Mato Grosso vão formar um grupo de trabalho para avaliar propostas de criação de terras indígenas e atos pretéritos de homologação. As ressalvas referem-se aos interesses dos legisladores envolvidos na iniciativa, no momento em que eles próprios encaminham projetos extremamente nocivos aos povos, como o a lei de zoneamento socioeconômico e ecológico que elimina 14 terras indígenas do mapa e o recrudescimento de grandes desmatamentos motivados pela expectativa de flexibilização do Código Florestal Brasileiro. De acordo com o coordenador geral da OPAN, Ivar Busatto, ao propor a revisão das demarcações de terras indígenas, os parlame

Índios e Militares na Amazônia Brasileira

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Nas Comunidades Indígenas do Rio Uaupés, a semana da pátria, não somente o 7 de setembro, é comemorada com muita festa. Ao longo de todo o mês de setembro se hasteia solenemente a bandeira verde e amarela e se recolhe com muito carinho ao fim do dia. É intrigante ver o enorme patriotismo existente na maioria das aldeias indígenas das fronteiras brasileiras. Intrigante porque se tratam de comunidades de povos que sobreviveram à formação do Estado Brasileiro e que sofreram na carne as piores atrocidades cometidas nesse país. E mais ainda pela forma espantosa, para não falar cruel, com que os militares tratam esses povos, pois são vistos por eles como perigosos a soberania nacional, o que justifica o aumento da danosa presença militar nas aldeias. Tive a oportunidade de conviver com pessoas de diferentes povos indígenas e de conhecer dezenas de aldeias de Roraima, Amazonas, Pará e Mato Grosso, além de alguns povos da Venezuela. Aqui no Brasil constatei que, os Pelotões Especiais de Front

POR QUE UMA POLÍTICA DE AUTOSUSTENTAÇÃO?

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Obs.: Este texto foi sugerido ao Conselho Indigenista Missionário - CIMI - em 1996 como orientação para sua política de Autosustentação das comunidades indígenas. A importância de se desenvolver uma política de autosustentação no momento que vivem os povos indígenas brasileiros e do CIMI, emana de variadas situações, preocupações e aspirações local, regional, nacional e até universalmente sentidas, tais como:  1. Da preocupação pela sobrevivência dos povos indígenas ameaçadas principalmente, pelas diversas formas de depredação dos recursos alimentícios em muitos dos seus territórios.  2. Das preocupações em torno do meio ambiente: preservação e reconstituição da variedade e da abundância.  3. Da necessidade de animar e reanimar os povos indígenas na sua política tradicional de produzir com abundancia, variedade e voltados para culturas locais, visando a melhoria da qualidade dos alimentos para a saúde, alegria e autonomia das comunidades.  4. Da auto-sustentação d

Agricultura e Sociobiodiversidade Amazônica

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Quando discutimos “produção familiar agrícola no Estado do Amazonas” é salutar recordar a experiência humana já vivida nesta parte do planeta antes da sujeição ao modelo de organização política estatal. A sobrevivência da humanidade está hoje ameaçada pela violência física e cultural que a terra sofre e pela depredação dos recursos alimentícios originários ou próprios a cada região do planeta. Todos os viventes do planeta dependem de uma mudança do paradigma político e do conceito de economia dos Estados Nacionais e, principalmente, do reconhecimento de economias distintas da “crematística” praticada por esses Estados. Muitos povos, comunidades, organizações e lideranças, vivem hoje preocupados atrás de financiamentos e de produtos de mercado para sustentar necessidades artificiais e ficções criadas ao longo da História humana. E nesta ânsia se esquecem da alimentação e da saúde das pessoas e da vida em geral, esquecem-se da preservação da natureza, da cultura e da economia da recipr

Povos Tradicionais e Desafios Socioeconômicos

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Nos trabalhos com povos indígenas e outras populações tradicionais, são freqüentes as argumentações sobre a necessidade de ações em torno da “auto-sustentação” e/ou “geração de renda”. Da parte das entidades de apoio e assistência a justificativa normalmente é econômica em sentido estrito, ou seja, frente aos novos desafios que a conjuntura apresenta, novas necessidades e desestruturação da economia tradicional, faz-se necessário encontrar alternativas para a melhoria das condições de subsistência. Este discurso é muitas vezes incorporado pelas populações tradicionais, no entanto é importante uma reflexão cuidadosa em busca de entender se a questão principal para as comunidades é realmente a necessidade de subsistir, a necessidade de adquirir bens. O caso dos Manoki (Irantxe) pode ajudar nesta reflexão. Durante toda a década de 1990 a maioria dos jovens saía da Terra Indígena para trabalharem em lavouras de agricultura industrial do entorno de suas terras. Na tentativa de reverter e

DOROTI, A DOCE RADICAL

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Vida e História de Doroti Schwade - Texto 12 José Ribamar Bessa Freire 05/12/2010 - Diário do Amazonas Quando eu a conheci, no final dos anos 70, em Manaus, ela já era uma militante das causas impossíveis e das sonhadas utopias. Foi num evento organizado pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI), na Casa Jordão. Estava cercada de índios de diversas etnias, com quem assinara um pacto de sangue, doando a eles suas energias, sua inteligência e uma vontade danada de viver e de lutar. De onde é que aquela freirinha tão miudinha tirava tanta força e coragem? Naquela longa e tenebrosa noite, de censura e repressão, de medo e silêncio, eram poucas as vozes que se levantavam em defesa dos índios, das terras invadidas, das culturas sufocadas, das línguas proibidas e dos etnosaberes discriminados. Doroti entrou de cabeça na luta, com aquela radicalidade e aquela fé inabalável que só os profetas costumam ter, na melhor tradição que vem de Bartolomeu de Las Casas. Seu entusiasmo era con

Porque Continuam Ocultos os Assassinos dos Waimiri-Atroari

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2000 Waimiri-Atroari desaparecidos durante Ditadura Militar – texto 4 Uma das estratégias do governo, em tempo de Ditadura Militar e de Nova República, para ocultar os assassinos dos Waimiri-Atroari é manter em locais estratégicos pessoas que saibam manter ante a opinião pública a aparência da política que está no poder. Assim Sarney deu continuidade à política indigenista da Ditadura Militar ao nomear Romero Jucá, homem de confiança dos ditadores, mas desconhecido na área indigenista, Presidente da FUNAI. Jucá, por sua vez, nomeou Sebastião Amâncio superintendente do Amazonas e Roraima, segundo cargo em importância na FUNAI. Este era conhecidamente submisso não só à política dos militares na região, mas também aos métodos de violência dos ditadores usados contra os índios Waimiri-Atroari. Quando Sarney passou a reserva desses índios à administração de uma empresa, a Eletronorte (caso único até então na política indigenista brasileira), esta nomeou Jose Porfírio de Carvalho para dar co

Seu Dedé

José Sotero de Lima, o seu Dedé, foi uma das primeiras pessoas que se estabeleceu com sua família próximo ao Rio Urubuí depois da construção da BR – 174, onde passado algum tempo de sua chegada foi criado o município de Presidente Figueiredo. Ele se tornou uma referência importante para os que aqui foram se fixando nos anos seguintes. Neste momento em que Dedé deixa este mundo quero compartilhar algumas lembranças que trago desde a infância. Nos inícios dos anos 1980 começou a surgir um embrião de povoado onde hoje está localizada a cidade de presidente Figueiredo. Para quem chegava aqui e se deparava com esse pequenino embrião de povoamento logo ouvia falar do Seu Dedé. Se no primeiro dia não ouvisse, certamente na manhã seguinte ouviria, assim que chegasse à mesa o pão do seu Dedé, da padaria Baliza. Naquela época a vida podia parecer dura, e era. Mas os poucos morador iam encontrando formas de fazer as coisas ficarem no mínimo mais engraçadas; iam criando motivos para rir. O nome