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11.05.2014 - TENHARIM: UM POVO CONDENADO AO APARTHEID - Egydio Schwade

 “Humaitá é hoje, em pleno século 21, uma cidade onde os índios não podem pisar, sob pena de serem espancados e mortos. Não apenas por comerciantes e pecuaristas, mas até por moradores que, como eles, vivem na pobreza.” 1 – Alceu Castilho As agressões ao povo Tenharim no seu habitat ao Sul do Amazonas, já vem de longe. E a sua motivação sempre foi de ordem econômica espoliadora. Curt Nimuendaju escrevia em 1922: “Da margem do Madeira foram expulsos, pela invasão dos seringueiros, em todo o trecho entre o Lago do Antônio e Paraizo.”. E em outro trecho: “Uma guerrilha cruel e traiçoeira começou e se arrastou durante longos decênios. Nas represálias dos civilizados, às mais das vezes, estes se comportavam pior que os seus adversários selvagens. Bradou-se por medidas enérgicas; exigiu-se o extermínio da tribo, e os moradores do sertão contribuíram o mais que foi possível para este fim, fazendo fogo sobre qualquer índio, onde quer que ele se apresentasse.  E foi desta forma, por uma guerra

UM MUTIRÃO DE ENTIDADES PRÓ-ÍNDIO - Egydio Schwade

O CIMI define quatro prioridades No início dos anos de 1970, a situação do índio brasileiro, era de total dependência do Estado e de suas decisões. Suas chefias estavam desmoralizadas, suas comunidades humilhadas pela pobreza e sua organização inexistente. O Estado impunha grandes projetos sobre áreas indígenas e justificava sua política nefasta, como benefício aos índios. Assim, por exemplo, em 1972, funcionários da FUNAI na área Waimiri-Atroari, se empenhavam em “convencer o cacique Maruaga, chefe geral das 15 aldeias, de que a estrada BR-174 traria benefícios para o grupo”. (Correio da Manhã - RJ. 1-8-72). E o Pres. da FUNAI, justificava a passagem da rodovia BR-80 pelo Parque Nacional do Xingú mentindo à nação: “a estrada não vai criar problemas para os índios”. E questionado pela opinião pública nacional e internacional sobre essa prática, o Governo afirmava o determinismo de seus projetos: “O Parque Nacional do Xingu não pode impedir o progresso do país”. (Pres. da FUNAI em Vis

Memórias da querida Silvia Bonotto - Egydio Schwade

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Faleceu ontem (17) em Porto Alegre/RS, Sílvia Bonotto Silvia foi a 1ª pessoa que se inscreveu na Operação Anchieta-OPAN, a 1ª ONG indigenista. Criada em fevereiro de 1969, a OPAN, hoje Operação Amazônia Nativa, com sede em Cuiabá/MT.  Silvia atuou durante mais de 30 anos com povos indígenas, optando sempre pelos que muito necessitavam de uma presença solidária. Em seu percurso, foram 4 os principais povos, com os quais conviveu e trabalhou: Kayabi e Apiaká, no Rio Tatuí ou rio dos Peixes/MT, Paresi, no Chapadão dos Parecis e Karajá, na Ilha do Bananal. Além desses atendeu e conviveu também em momentos de emergências com os Tapirapé, com os Irantxe, Nanbikuara, Rikbaktsa, Enauenê Nauê, Myky e Pakaa Novo. “Belas histórias e alegrias com todos estes povos!” Conclui, Silvia em um de seus escritos. Nossa solidariedade e gratidão, a esta preciosa família Bonotto que com Sílvia e Zé, trouxe tanta alegria a tantos povos indígenas e a todos nós que tivemos a honra deste convívio caloroso por to

ALESSANDRA: AULA DE ECLESIOLOGIA - IV Encontro da Igreja Católica na Amazônia Legal

(No IV Encontro da Igreja Católica na Amazônia Legal) Boa tarde. Sauê. Obrigado pelo convite neste momento. Ultimamente, não está sendo muito fácil para muitos povos. Nem para os povos indígenas, nem para os ribeirinhos, nem para os pescadores, nem para assentados e isto é o fato que está lá encima, incentivando a violência contra os povos e eu tou aqui não só como mãe, não só como uma liderança, mas senti o que estamos passando, como mulher. Sentindo o que estamos passando como vida, no território.  Eu sou da aldeia da Praia do Índio, mas eu venho acompanhando todo o povo Munduruku do Médio e Alto Tapajós, inclusive na terra do Teles Pires. E atualmente, como vice-coordenadora da APEPIPA, eu também estou conhecendo outros povos. A dificuldade desse povo até chegar lá. E não é fácil. Recente eu estava com os Apiperewa, com o povo Parakanã. Depois eu fui nos Yanomami, participando, 30 anos de território demarcado dos Yanomami e tudo que chega lá hoje é primeiramente o garimpo. É triste

Deus acima ou Deus Escondido, no meio? - Egydio Schwade

Suponhamos que em definitivo sejamos julgados pela observância da “lei da liberdade” (Tg. 2.12) inscrita em nossos corações e não pelo Direito Canônico ou pelas leis criadas por vereadores, deputados e senadores... De 6 a 9 de junho, realizou-se em Santarém o IV Encontro da Igreja Católica da Amazônia Legal, tendo assistido ao evento pela internet. E me marcou a aula de Eclesiologia, dada por Alessandra, índia Munduruku. Resumindo: Segundo Alessandra Igreja é ser luz dos povos. Precisa encarnar-se na realidade “dos povos indígenas, defendendo os quilombolas, os pescadores, todos que precisam”. “Tem que sentir, a pele, a dor. Sentir o corpo também!” e sem fronteiras políticas e eclesiásticas: ”Eu sou da aldeia da Praia do Índio, mas eu venho acompanhando todo o povo Munduruku do Médio e Alto Tapajós, inclusive na terra do Teles Pires. E como vice-coordenadora da APEPIPA, eu também estou conhecendo outros povos. Os Apyterewa, o povo Parakanã. Fui nos Yanomami, participando. É triste ver

Efemérides - 1º a 2 de julho de 1983 - Primeira visita a aldeia dos Waimiri-Atroari - Egydio Schwade

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 No dia 18 de março de 1975 o Presidente da FUNAI, General Ismarth de Araújo Oliveira, proibiu o Presidente do CIMI, D. Tomás Balduino e a equipe do Secretariado Executivo do CIMI, de entrar em qualquer área indígena do país. A proibição pesou sobre mim até o fim da Ditadura Militar, em 1985. Entretanto, como se tratava de uma proibição descabida, injusta e sem fundamento legal, nunca a levei a sério. Aproveitando a ausência total do Estado junto às populações indígenas remanescentes, a partir daquele dia andei por todo o país, mais livre, sem necessidade de esperar por autorizações da FUNAI, para visitar as áreas indígenas país afora. Foi, inclusive, o período em que mais áreas indígenas visitei e em todas as regiões do país. foto: Egydio Schwade Efemérides de hoje: Essa foto, registra a nossa primeira visita, com família – ainda em caráter clandestino, - a uma aldeia dos índios Waimiri-Atroari. Foi nos dias 1º a 2 de julho de 1983, com Doroti, grávida de Mayá Regina e Marcos Ajuri e

Efemérides - 30.06.1973-1983 - Criação do Secretariado Executivo do CIMI e o lançamento do Movimento de Apoio à Resistência Waimiri-Atroari-MAREWA

Após um ano e meio de sua criação, o CIMI permanecia praticamente inativo, provocando reclamações constantes que caiam sobre o Secretariado da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB. Por isso, a pedido de D. Ivo Lorscheiter, Secretário Executivo desta, reuniu-se, no dia 30 de junho de 1973, em Brasília, o Conselho Indigenista Missionário-CIMI para a criação do seu Secretariado Executivo. A primeira equipe do Secretariado: Egydio Schwade: Secretário. Ivar Busatto e Sílvia Bonotto da OPAN-Operação Anchieta, hoje Operação Amazônia Nativa. Valber Dias Barbosa, Estudante Redentorista, Clara Favílla, jornalista e Pe. Antônio Iasi, sj. Na oportunidade também foi aprovado o Regimento Interno do CIMI. Em 30 de junho de 1983 aconteceu o lançamento oficial do Movimento de Apoio à Resistência Waimiri-Atroari-MAREWA na Assembleia Legislativa do Amazonas, sendo o discursador oficial do evento, o Dep. João Pedro Gonçalves, do Partido Comunista do Brasil-PC do B. Casa da Cultura do Urubuí, 30

Reunião no Seminário do Passo Fundo - Egydio Schwade

 Em maio de 1967 Pe. Thomaz Lisboa e eu publicamos 9 artigos sobre a situação dos índios no Rio Grande do Sul. Em consequência, a Assembleia Legislativa criou uma CPI para apurar os fatos. Durante os trabalhos da CPI foi descoberto e denunciado que o arcebispo D. Vicente Scherer de Porto Alegre e o bispo D. Cláudio Colling, de Passo Fundo, haviam recebido cada um 100 pinheiros para construção de seus seminários. Pinheiros, retirados pelo Serviço de Proteção aos Índios-SPI, de áreas indígenas do Rio Grande do Sul. Numa reunião dos Bispos do Sul-III da CNBB, os dois bispos reclamaram do Provincial dos jesuítas, providências para nos reprimir. Foi o que o Provincial fez em carta a nós. Entretanto, pouco depois, D. Ivo Lorscheiter, então secretário do Sul III,  nos solicitou que organizássemos um encontro de Pastoral Indigenista, para padres e freiras de regiões próximas às áreas indígenas do Estado. Apresentei-lhe então a dificuldade de que não éramos as pessoas mais indicadas para isto,

Obediência Criativa! - Egydio Schwade

 Nas férias, em dezembro de 1967 voltei, brevemente, à Missão Anchieta com outro colega estudante jesuíta, a convite do vigário de Porto dos Gaúchos, Rio Arinos, para fazer um levantamento do povo da paróquia. Descemos o Arinos, território dos índios Tapaiuna, conhecidos como Beiços-de-pau. A certa altura estes flecharam contra nossa embarcação. E uma flecha caiu ao meu lado. Após o levantamento, no início do mês seguinte, voltando pelo mesmo rio, outro grupo Tapaiuna arredio, se apresentou, pacificamente, na margem do rio. Alguns tripulantes jogavam roupa, enquanto os índios ofereciam cestas e colares e com gestos pediam que o barco encostasse. Mas o dono, receoso, apenas passou rente, evitando encostar. Preocupado pelos índios, temendo que algum irresponsável se aproveitasse dessa situação e fosse contatar o grupo levando-lhes doenças, procurei em Diamantino/MT o Superior Religioso dos jesuítas e tentei convencê-lo a enviar imediatamente algum missionário para que contatasse o grupo

DIFICULDADES ENFRENTADAS PARA A CRIAÇÃO DO CIMI - Egydio Schwade

 Estávamos casualmente juntos, (Thomaz Lisboa, Adalberto Pereira e eu, em Diamantino, Mato Grosso/1971, quando recebemos a carta-convite do Pe. João Mometti, Secretário Nacional de Atividade Missionária-SNAM, da CNBB, para participarmos de mais uma reunião de missionários das prelazias e dioceses, com pastoral indigenista, a se realizar em Brasília, entre 22 e 25 de abril de 1972. P. Mometti acabara de chegar de um curso de Missionologia em Roma e estava totalmente por fora dos dois encontros anteriores de missionários convocados pelo SNAM, - Morumbi e Campo Grande a partir dos quais se se começou a urgir a criação e um instrumento que coordenasse das atividades e que garantisse mais unidade na ação indigenista da Igreja. Naquele momento eu era um dos coordenadores da OPAN que havia criado em fevereiro de 1969. Primeira ONG indigenista. Nos revoltamos contra a agenda prevista para o encontro de Brasília e nos dirigimos a D. Henrique, Bispo de Diamantino, que estava de malas prontas par

PANORAMA MISSIONÁRIO A ÉPOCA DO CONCÍLIO VAT. II. - Egydio Schwade

 O “ Regulamento acerca das Missões de Catequese e Civilização dos índios ”, Decreto Nº 426 – 24-07-1845 foi um caso típico da aceitação por parte da Igreja das regras de jogo impostas pelo Estado aos povos indígenas e de rejeição do projeto autóctone para a organização da sociedade. O título já introduz o conteúdo: “ Catequese e Civilização ”. No conteúdo os missionários admitem “a conservação ou remoção, ou reunião de duas, ou mais nações , em uma só” – de acordo com o arbítrio e o interesse do projeto da sociedade invasora. (Art. 1º, 2º r 7º) Aceitam contribuir para a violência e destruição cultural dos povos indígenas que não se comportam conforme as expectativas do Governo da sociedade nacional. (Art. 1º, S 3º) Aceitam “pregar a Religião de Jesus Cristo e as vantagens da vida social ” –  (Art. 1º, S 7º). O art. 1º & 7º insinua que Evangelizar=civilizar. “Os quais lhes vão pregar a Religião de Jesus Cristo e as vantagens da vida social”. O missionário vai aos índios com a gara