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Mostrando postagens de agosto, 2011

Relatório de Doroti Escrito em 29-11-1977 (Sobre os Jamamadi)

Vida e Hitória de Dorotí Schwade: Texto 11 Obs: Este texto foi trascrito a partir de rascunho manuscrito do relatório escrito por Dorotí em 1977. Tráta-se do relatório encaminhado ao amigo Beto a que faz referência referência o texto anterior desta série. Relatório Saímos de carona em “batelão” (canoa grande coberta e de motor). Pernoitamos no “barracão” e seguimos viagem de canoa a remo. Um dia a remo. Ia conosco um amazonense. Já aí soubemos que na maloca onde iríamos estava programada uma “festa” e muitos civilizados iam para lá. Quando o igarapé se tornou intransitável devido às galharias e “paus” que fechavam o caminho encontramos uma “colocação”. Neste lugar já estavam “agasalhadas” uma família de mestiços e uma mulher com as filhas que iriam para a maloca para a festa. O Pedro ajudou a refazer o “tapiri” (era uma “colocação” abandonada) enquanto eu procurei me entrosar com as mulheres. Apenas açaí para matar a fome enquanto o “caboclo” foi caçar. Lá pelas dez da noite ele

Casa da Cultura do Urubuí Promove Oficina de Meliponicultura

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A criação de abelhas indígenas sem ferrão (Meliponicultura) é uma atividade relativamente pouco praticada na atualidade, mas de suma importância para a manutenção da biodiversidade. Estas abelhas nativas, na Amazônia são responsáveis por até 90% da politização da flora dependendo o ecossistema, segundo o grande estudioso do assunto Dr. Warwick Kerr. São insetos que não representam perigo algum e seu cultivo pode ser feito mesmo por crianças e em ambientes urbanos. Além de sua importância na polinização, diversas espécies ainda produzem mel de ótimo sabor e muito valorizados na medicina popular. Com a destruição dos ecossistemas naturais, a criação passa a ser muito importante para a preservação das espécies. Além disto, o gosto pela criação de abelhas desperta o interesse pelo estudo e conhecimento científico, que tem como conseqüência a formação de indivíduos mais consciente em relação à necessidade do cuidado com a natureza. E é por isso que a Casa da Cultura do Urubuí vem incent

Florestas de Alimentos: Uma Agricultura de Reciprocidade para a Amazônia

A floresta amazônica é generosa para com a vida. Abriga incalculável diversidade de espécies, de microorganismos a gigantes como as samaumeiras. E tem sido generosa também para com a humanidade, fornecendo cores, sabores e abrigo para pessoas que vivem e que viveram aqui há milênios. E para o mundo inteiro ajudando a criar um clima agradável, da temperatura a regulação do regime de chuvas e secas. Mas nos últimos tempos muitos homens não tem tratado com o mesmo carinho esta generosa natureza, que sofre não só por si, mas por ver seus filhos sofrerem. Não é por falta de opção que tanto se destrói. É possível fazer uma agricultura de reciprocidade com e para a Amazônia. Para isso é necessário que aja a preocupação com o aproveitamento da floresta nativa, mantendo todo o seu vigor original, sem alterá-la ou destruí-la, preocupando-se em recuperar áreas degradadas por ocupantes anteriores. É o que muitas comunidades tradicionais fizeram e fazem, e é o que estamos procurando fazer em n

Carta de Doroti ao Amigo Beto

Vida e História de Doroti Schwade: Texto 10 Rio branco, 29 novembro de 1977 Olá Beto, Há muito que queria me comunicar contigo. Mesmo antes de te conhecer pessoalmente. Sei lá, uma vontade de agradecer por tu existires. Agradecer a esperança que tu representas. A única vantagem que um sistema repressivo pode trazer, é justamente tornar pleno aquele compromisso com a humanidade que torna a pessoa sábia e santa. Sei lá, eu só queria dizer que sou feliz em te conhecer. Tenho muitas destas oportunidades e acho que isto é uma graça. Pelo simples fato de ter optado pelo povo oprimido acabei tendo oportunidade de conhecer gente como Pedro Casaldáliga, Pe. Afonso De Caro e tantos outros. Com todos tenho aprendido muito e renovado grandemente minha esperança na Utopia. Quanto mais mergulho na vida aniquilada do povo, principalmente o amazônida e especialmente o índio, tanto mais acredito na fraternidade e na “loucura” do Evangelho. É verdade que às vezes tenho vontade de me revoltar e m

A Economia Invisível da Amazônia

Há milênios centenas de povos habitam a Amazônia. Durante a história (uns diriam pré-história) os indígenas estabeleceram sistemas econômicos baseados no manejo dos ecossistemas naturais e em cultivo capazes não apenas de coexistirem com ecossistemas naturais, como também de enriquecê-los. Aliado a isto desenvolveram redes de intercâmbios de produtos bastante sofisticados, como o Manako praticado por diversos povos dos Rios Purus e Juruá. Estes sistemas econômicos foram capazes de gerar grande abundância de produtos. Fr. Carvajal, cronista da expedição de Orellana, ao chegar numa aldeia no ano de 1540 escreve: “grande quantidade de carne, peixes e biscoitos, tudo com tanta abundância que era suficiente para alimentar uma força expedicionária de mil homens durante um ano inteiro” (CARVAJAL. Descubrimiento del Rio de las Amazonas). Essa diversidade foi possível graças ao desenvolvimento de tecnologias de manejo e cultivo. Centenas, talvez milhares de espécies vegetais foram domesticada

Audiência Pública Debate Solução para Conflitos Agrários em Presidente Figueiredo

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Tendo como motivo primeiro apontar soluções para o conflito fundiário que envolve a comunidade Terra Santa, situada a leste da BR 174, quilometro 152, 232ª Reunião da Comissão Nacional de Combate à Violência no Campo. Realizada no dia 27 de julho deste ano na câmara municipal de Presidente Figueiredo, foi momento importante de debate sobre os problemas acarretados pelos títulos emitidos de forma fraudulenta pelo governo do Amazonas na década de 1970 e que afetam milhares de famílias de agricultores. A audiência foi conduzida pelo Desembargador Gercino Jose da Silva Filho, Ouvidor Agrário Nacional e Presidente da Comissão Nacional de Combate à Violência no Campo. Contou com a presença de representantes de diversas entidades, entre elas o Ministério Público Federal, Iteam, Incra, Terra Legal, Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Presidente Figueiredo, Casa da Cultura do Urubui, Câmara Municipal de Presidente Figueiredo, entre outros. Os agricultores da comunidade Terra Santa, que vem d

Vida e Histórias de Doroti Schwade: Texto 9

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As Sementes de Doroti Müller Schwade*  A indigenista, agroecologista e militante socioambiental Doroti Alice Mueller Schwade, com sua sensibilidade e determinação, é uma das grandes construtoras de conhecimento para a sustentabilidade da Amazônia. ‘A índia-branca’ Doroti, nasceu em Blumenau, SC, e veio para a Amazônia nos anos 70 como uma jovem e idealista para lutar pela emancipação dos povos indígenas. Posteriormente, casou-se com o também idealista indigenista Egydio Schwade e, juntos, semeiam alternativas para a soberania dos povos e para o respeito a todas as formas de vida da Amazônia. As sementes de amor e de sustentabilidade de Doroti Mueller Schwade não são contaminadas com agrotóxicos, herbicidas, inseticidas, não são transgênicas e nem precisam ser semeadas com adubos químicos. As sementes de Doroti valorizam a vida, a soberania econômica e política dos povos, a força das mulheres e o meio ambiente e são regadas com a integração da sabedoria tradicional e popular e do conh