Florestas de Alimentos: Uma Agricultura de Reciprocidade para a Amazônia
A floresta amazônica é generosa para com a vida. Abriga incalculável diversidade de espécies, de microorganismos a gigantes como as samaumeiras. E tem sido generosa também para com a humanidade, fornecendo cores, sabores e abrigo para pessoas que vivem e que viveram aqui há milênios. E para o mundo inteiro ajudando a criar um clima agradável, da temperatura a regulação do regime de chuvas e secas. Mas nos últimos tempos muitos homens não tem tratado com o mesmo carinho esta generosa natureza, que sofre não só por si, mas por ver seus filhos sofrerem.
Não é por falta de opção que tanto se destrói. É possível fazer uma agricultura de reciprocidade com e para a Amazônia. Para isso é necessário que aja a preocupação com o aproveitamento da floresta nativa, mantendo todo o seu vigor original, sem alterá-la ou destruí-la, preocupando-se em recuperar áreas degradadas por ocupantes anteriores.
É o que muitas comunidades tradicionais fizeram e fazem, e é o que estamos procurando fazer em nossos cultivos que temos chamado de "um sistema de floresta de alimento". Iniciamos com a criação de abelhas, principais mantenedoras da biodiversidade amazônica. As áreas degradadas por ocupantes anteriores foram transformadas em pomares atrativas para o homem e para os animais silvestres e domésticos. Nele cultivamos espécies de abelhas melíferas, 72 espécies de fruteiras, sem contar as variedades, 21 espécies de tubérculos, mais hortaliças, fauna aquática e pequenos animais domésticos. Animais silvestres também circulam livremente.
O sistema utilizado faz com que a pequena área recuperada forneça tal abundância de alimentos que não só abastece de produtos variados a mesa, mas cria excedentes em maior quantidade do que o tradicional avanço predador da floresta. O aproveitamento de troncos de árvores já derrubadas e que resistiram às queimadas dos sistemas anteriores e outras que caíram na mata, derrubadas pelo vento, abastecem as necessidades de construções da família, não necessitando avançar sobre a mata virgem. Desde que iniciamos o nosso modelo de agricultura, nunca derrubamos floresta nativa.
Usando adubo orgânico, consorciando os plantios e variando as técnicas dos plantios, podem-se obter boas colheitas das mais variadas espécies de frutas, tubérculos e hortaliças: cupuaçu, abiu, abacate, limão, biribá, araçá-boi, camu-camu, pupunha, umari, mari-mari, bacaba, castanha-da-amazônia, jamelão, abacaxi, graviola, manga, coco, açaí, banana, cajú, maracujá, pitanga, café, taperebá, cacau, acerola, marmeladinha, amora, mamão, jambo, ajiru, carambola, tucumã, só para citar algumas. Além de essências como andiroba, copaiba, sucuuba e de flores melíferas e poliníferas como o amor-agarradinho, a melissa, a damiana e outras.
Em diversos pontos da “Floresta de Alimentos”, localizamos colméias. Cultivamos em colméias as feras que nelas se adaptam e protegemos todas as demais espécies de abelhas da região. Já temos 10 espécies em colméias.
Através desta experiência buscamos compartilhar técnicas acessíveis às comunidades, para uma agricultura auto-sustentável e que retribua a generozidade da Floresta Amazônica. Desde 1997 acolhemos pessoas de língua portuguesa, espanhola, Yanomami, Makuxi, Apurinã, Baré, Tukano, Baniwa, Embera e Katio, Madiha, Cambeba, Kapeba, Tikuna, Munduruku, Wai Wai, Wapitxana e Deni. Ao todo pessoas de 34 povos indígenas e agricultores de mais de 70 comunidades já passaram por cursos dados pela família.
Casa da Cultura do Urubuí.
Egydio Schwade
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