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Mostrando postagens de 2010

Desejos para 2011

Queridas e queridos amigos, Antes que inicie o novo ano, queremos agradecer as manifestações de conforto, carinho e solidariedade que recebemos de tantas pessoas do Brasil e do mundo. Alicia, austríaca e uma das muitas e queridas pessoas amigas, nos escreveu desde La Paz na véspera do Natal: “Doroti nos vai acompanhar a todos nesta data querida. Sempre vou lembrar as noites de Natal com vocês, cheias do espírito da Doroti, coordenando, planejando e dando carinho, alegria e presentes a todas e a todos”. Lembrando a nossa querida mãe e esposa Doroti, queremos compartilhar com todos a lembrança da nossa primeira refeição aqui, em nossa casa. Foram três meses de intenso trabalho de construção coordenado pelo companheiro de indigenismo Rui, da Operação Amazônia Nativa – OPAN, gaúcho de Garibaldi. Enquanto Doroti preparava o almoço, Rui e eu, Egydio, ainda carregávamos as nossas “tralhas” para dentro de casa. Nossos pequerruchos, Ajuri e Adu, que brincavam na rua, viram um flautista vindo no

Doroti e o Peso

Mas será o peso de fato deplorável, e esplêndida a leveza? Milan Kundera Milan Kundera, com sua leveza insustentável, problematiza a compreensão machista e maniqueísta de Parmênides e seu mundo dividido em pares opostos (luz/escuridão, peso/leveza, calor/frio, masculino/feminino), no qual atribuiu um valor negativo a feminino, peso, frio e escuridão e um valor positivo a seus antípodas. Ao questionar este sistema, Kundera usa, por exemplo, a seguinte metáfora: O mais pesado dos fardos nos esmaga; sob seu peso, afundamos, somos pregados ao chão. E, no entanto, na poesia amorosa de todas as épocas, a mulher anseia por sucumbir ao peso do corpo do homem. O mais pesado dos fardos é, pois, simultaneamente, uma imagem da mais intensa plenitude da vida. Quanto mais pesado o fardo, mais nossas vidas se aproximam da terra, fazendo-se tanto mais reais e verdadeiras. Bela tentativa, Kundera, mas cremos poder oferecer exemplo mais significativo para contestar Parmênides e, por isso, neste momento,

Dorô, A Menina que Virou Flor, Roça, Pomar, Amor

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Obs.: Adaptação do mito da origem da roça do Povo indígena Manoki, em homenagem a Doroti Alice Müller Schwade. Naquele Tempo vivia uma menina. Sempre que encontrava as pessoas ela perguntava se elas estavam bem e se estavam cuidando das outras e da natureza, mas as pessoas quase nunca respondiam e só assobiavam. - Vocês estão cuidando das crianças? - Fi... - Vocês estão cuidando das pessoas de quem foi tirado o direito a vida digna? - Fi... - Vocês estão respeitando as pessoas que tem cultura diferente? - Fi... Cada dia a história se repetia: - Vocês estão cuidando das águas? - Fi... - Vocês estão cuidando dos bichinhos? - Fi... - Vocês estão cuidando das florestas? - Fi... - O que vocês fizeram para que o reino de Deus floresça sobre a Terra? - Fi... Era sempre assim: a menina perguntava e as pessoas só assobiavam. Ela não gostava que as pessoas só assobiassem, ficou triste, zangou e disse para seus amigos: - Amigos, vamos andar por aí? Eu queria ficar perto da natureza. - Então vamos

Último domingo Contemplando o horizonte

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Chegamos de manhã, fizemos a volta com o carro e encontramos ela já com a sua netinha ao colo, embalando para lá e para cá na varanda da casa. Já nos encontrou sorridente, um por um dando boa chegada. Olhei para ela sem maldade, só por intuição. Ela com os olhos brilhando por termos ido naquele domingo. -Vão entrando e podem tomar café, já vou lá. Estou cuidando da minha netinha, disse olhando para a bebezinha. Fomos direto ao local de refeição, onde os meninos estavam conversando, juntamente com o Egydio. Passamos a manhã e o almoço e um pouco da tarde indo e voltando, como se fôssemos formigas, em todo o local da residência de Dorô Schwade. Uma hora estávamos na cozinha, outra na sala, em outra no quintal. No Almoço, todos serviram-se; ela, como sempre, a última a se servir, mas almoçou bem. Depois, cada um foi para o seu cantinho. Ela foi com o Egydio tirar a soneca da sesta após o almoço. Na hora do jogo da penúltima rodada do campeonato brasileiro de futebol, os homens correram pa

Intense, passionate and radical embrace of the indigenous cause (in memoriam Doroti Müller Schwade)

By Guenter Francisco Loebens Cimi North Regional I Doroti died on December 3, victim of a stroke. Her funeral on Sunday the 5th in the town of Presidente Figueiredo, was accompanied by family, friends and the local community. Determination From Blumenau in the state of Santa Catarina, she left home, in the 1970s, to be an OPAN volunteer (Operation Anchieta, today Operation Native Amazon) and member of the Indigenous Missionary Council (CIMI). Her embrace of the indigenous cause and the Amazon was intense, passionate and radical. She was initially called to conduct a survey of the indigenous people in Western Amazonia, Acre and Southern Amazonas. It was the first step for the indigenous people of this region, then known as mestizos, to begin to organize themselves to sever the relations of exploitation in the rubber plantations and the struggle for the demarcation of their lands. To provide support for the work of supporting the indigenous struggle of the region, she helped to create th

Um pouco da memória da vida de Doroti Müller Schwade*

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Por Guenter Francisco Loebens Cimi Regional Norte I Doroti faleceu no dia 3 de dezembro, vítima de derrame cerebral. Seu enterro neste domingo, no município de Presidente Figueiredo, foi acompanhado pelos familiares, amigos e pela comunidade local. Catarinense de Blumenau, saiu de casa, na década de 1970, para ser voluntária da OPAN (Operação Anchieta, hoje Operação Amazônia Nativa) e integrante do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Abraçou a causa indígena e a Amazônia de forma intensa, apaixonada e radical. Inicialmente foi convocada para fazer o levantamento dos povos indígenas na Amazônia Ocidental, no Acre e sul do Amazonas. Foi o primeiro passo para que os indígenas dessa região, então conhecidos como caboclos, começassem a se articular para romper com as relações de exploração nos seringais e a lutar pela demarcação de suas terras. Para dar suporte ao trabalho de apoio às lutas indígenas dessa região, ajudou a criar o regional Amazônia Ocidental do Cimi, sen

Doroti Alice Mueller Schwade: nota da família

Queridas Amigas e Queridos Amigos, Queremos agradecer às inúmeras pessoas que aliviaram o nosso sofrimento pelo falecimento súbito de Doroti, com sua ação e acolhimento, presença e solidariedade viva manifestada de diversas formas: de viva voz, presentes aqui na celebração do velório, missas e enterro, via internet ou via telefone. Deus lhes retribua por tudo. Mas, em especial, um muito obrigado a todos que entendendo a mensagem e o desejo de Doroti transformaram o velório, as celebrações litúrgicas e o próprio enterro em alegria, como era desejo ardente de nossa querida mãe e esposa. Queremos também adiantar os sentimentos da celebração do domingo próximo que é denominado de domingo da alegria. Com São Paulo lhes dizemos: “Alegrai-vos, e de novo lhes digo alegrai-vos. O Senhor está próximo!” Com o nosso carinhoso abraço, Egydio, Ajuri-Andrea-Beatriz, Adu, Mayá-Ricardo-Ana Cristina, Maiká-Michéli e Luiz Augusto.

Frutapão

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Noite Feliz! Se foi Doroti Schwade. Menina com pensamento de solidariedade para com os menos favorecidos. Adolescente que viu na igreja católica a possibilidade de ajudar aos que precisam. Ingressou no CIMI e através dele começou a ajudar aos povos que precisam: os índios deste país: da Região Norte e de Região Central. Fez contato com diversos irmãos índios dos rios Juruá e Purus. Foi para o Acre levar a solidariedade aos companheiros índios daquele Estado. Na região do Itacoatiara e em seu entorno, levou palavras e ação de conscientização, luta, solidariedade aos diversos irmãos indígenas da região e aos agricultores das comunidades daquela localidade. Foi então para Presidente Figueiredo juntamente com seu esposo e companheiro Egydio e seus filhos. Fixou-se em Presidente Figueiredo. Agora, levando a arte de criação de abelhas, a arte de uma nova agricultura familiar e de subsistência às diversas nações indígenas da Região Norte, assim como aos agricultores do município e

Audiência pública mostra entraves do INCRA

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Na semana passada participei de audiência pública que avaliou a ação do INCRA no município de Presidente Figueiredo/Amazonas. O que deveria ser iniciativa semestral dos dirigentes do órgão em mãos do Partido dos Trabalhadores, aconteceu agora no final de oito anos e ainda por convocação do vereador Miguel Leopoldo Bastos (PT). Pela primeira vez, os agricultores e agricultoras foram ouvidos em seus reclamos diários: falta de título e garantia de suas terras, o que impossibilita obterem créditos; casas que não são entregues; ramais intransitáveis; falta de apoio para venda de seus produtos; etc., etc... Uma ladainha infindável de reclamações que não se alteram desde os idos de 1980 quando cheguei a esta região dos rios Urubu e Uatumã. Inalteráveis desde a ditadura militar, passando pelos governos Sarney, Collor, Itamar, FHC e agora pelos 8 anos do governo Lula. Infelizmente também do governo Lula. Não porque o governo federal não tivesse enviado recursos, mas porque não conseguiu mudar

Por que os índios incomodam mineradores e latifundiários?

Diamantino/Mato Grosso 8 de janeiro de 1963. Do caminhão que me levaria dentro de uma hora para Utiariti no Noroeste de Mato Grosso, onde iria ser mestre de indígenas, desembarcava o primeiro índio que conheci naquele sertão. Era um jovem do povo Kayabi. Ele chegava da aldeia, fazendo a viagem em sentido contrário ao meu. Durante os três anos seguintes que permaneci naquela região, foi esta a rotina mais comum. Indígenas abdicando de sua identidade. E a cidade era o melhor refúgio para ocultá-la. A afirmação mais freqüente era: "não sou índio! Sou caboclo!" Não me recordo de um só que afirmasse: "estou indo para a aldeia, para maloca. Eu sou índio." O Governo, atrás da política de Rondon falava em "integração à comunidade nacional". E os antropólogos daquele momento difundiam o conceito de "aculturação" do qual nos advertia o Pe. Adalberto Pereira, jesuíta cearense e guru de nós jovens recém-chegados ali: "A aculturação passa pela desintegr

Irmãos Fernando e Sérgio Vergueiro: serviço à grilagem

Constituição violada, terras de índios Waimiri-Atroari griladas, centenas de famílias de pequenos agricultores do município de Presidente Figueiredo há mais de 20 anos vivendo na angústia, ameaçados de despejo de suas posses. Este é parte do prejuízo causado pelos irmãos Sérgio e Fernando Vergueiro, Rua Estados Unidos, 746/São Paulo/capital, com apoio do Governador biônico Danilo Areosa e seus sucessores: José Lindoso, Gilberto Mestrinho, Amazonino Mendes e Eduardo Braga. Perfil dos grileiros. Fernando e Sérgio Vergueiro, respectivamente advogado e Engenheiro-agrônomo, com cursos de extensão na Southwestern Louisiania University e cursos de administração de empresas de crédito imobiliário pela USAID, excelente ambiente para especialização em grilagem de terras, pois como se sabe, os norte-americanos sempre tem sido os maiores especialistas no assunto. Em 1967 os irmãos Vergueiro fizeram a sua primeira experiência de grilagem de terras no Noroeste de Mato Grosso entre os rios Sangue e A