As Abelhas e o Nosso Ambiente


 

Desde 1993 investimos na criação de abelhas nesta região norte do Amazonas, nas cabeceiras do Rio Urubu. Além de 10 espécies de abelhas indígenas sem-ferrão, criamos abelhas africanizadas, hoje presentes em toda a Amazônia.

De nossa experiência concluímos que a criação de abelhas protege a floresta Amazônica e é um investimento sustentável, rentável e compatível com as diversas atividades agrícolas, quando feita dentro dos princípios da permacultura ou da agroecologia.

O investimento nas diversas espécies de abelhas presentes na região:
  • Garante e enriquece a biodiversidade.
  • Traz alimento e remédio para quem as cria. E o excedente dos seus produtos é facilmente comercializável.
  • Faz com que seu criador conheça e cuide com carinho da natureza, dos mananciais de água e do equilíbrio ecológico, porque são condições absolutamente necessárias ao seu exito.
  • Incentiva a troca de conhecimentos, de mudas e de sementes.
  • leva pessoas e povos a fazerem ciência, desenvolverem tecnologia e cultura de vida, obtendo como resultado um grande acúmulo de sabedoria para cuidar da Mãe-Terra.
As abelhas nos ajudam a sermos administradores da vida e não pretensos donos de terras, águas, solos pessoas e demais elementos da natureza. São ‘pedagogas’ dirigindo sempre os nossos olhares rumo ao conjunto da vida, com um carinho especial para os dosséis ou copas das árvores e plantas, geradoras das flores.

O agricultor que cria abelhas, ao invés de derrubar e vender suas árvores, as multiplica pela transformação de capoeiras em “florestas de alimentos” e assim garante o abastecimento diário de sua mesa com frutas variadas e saborosas, bem como com tubérculos e raízes, evitando o consumo de produtos contaminados com agrotóxicos; garante um solo sempre mais fértil e sadio, através da reciclagem da biomassa; Aproxima os animais silvestres, garantindo a proteína animal sem o esforço irracional do caçador que, arriscando a sua saúde, perde dias e noites na perseguição dos últimos espécimes de caça que se escondem no fundo da floresta e, também, sem a destruição absurda causada pelo pecuarista na criação de gado; E, finalmente, multiplica os polinizadores.

Hoje já temos alguns dados estatísticos sobre a produção de mel de abelhas apis melífera. A produção media anual desta microrregião varia entre 25 e 45 quilos de mel/ano por colméia (detendendo do ano e do local, existindo variações entre localidades próximas de ano para ano).

Com base as dados de produsão de mel, pólen, própolis, cera, além do serviço de polinização prestado pelas abelhas, tomando-se em conta o pouco recurso exigido numa criação de abelhas, concluímos que se trata de um dos investimentos mais rentáveis para a região Amazônica. Mas, para isso, há necessidade de se criarem ambientes reais e eficientes para a conservação ambiental e a recomposição da biodiversidade em todo o mundo. Sendo os insetos, principalmente as abelhas, elementos fundamentais da conservação e recomposição da biodiversidade, é preciso garantir um ambiente saudável para a multiplicação de todas as espécies de abelhas, não somente daquelas que mais interessam ao mercado.

Investir na variedade de flores, principalmente nas floradas dos períodos de mais carência, mantém o equilíbrio do mundo das abelhas e também a saúde do apicultor e do meliponicultor que se tornam assim essencialmente promotores da biodiversidade.

As abelhas são parte integrante do ecossistema da região em que vivem. Sua principal função na natureza é a polinização das flores e, consequentemente, a produção de sementes e frutos. Segundo o pesquisador Warvick Kerr, dependendo do ecossistema, as abelhas brasileiras sem-ferrão são responsáveis por 35 a 94% da polinização das árvores nativas. Nos últimos anos a pesquisa acadêmica tem progredido muito sobre biodiversidade, mas se popularizou pouco. Como conseqüência as pessoas permanecem alienadas a ponto de considerá-la um detalhe de pouca importância. Primordialmente era diferente. A revelação das novas descobertas era a maior alegria da pessoa no campo e na floresta.

Os monocultores, os agronegociantes e os donos de serrarias são os maiores inimigos das abelhas porque depredam e/ou envenenam suas fontes de alimento. O uso de inseticidas, especialmente nas plantações de arroz, soja e algodão arrasam toda possibilidade de sobrevivência das abelhas em regiões inteiras. Algumas abelhas já estão se tornando urbanas, como a jataí. Na cidade, por sua vez, são afetadas pelas pulverizações para controle do mosquito da dengue e de outros insetos. Também a derrubada seletiva das árvores mais velhas, hoje até incentivada por algumas ONGs ambientalistas, atrás da “madeira certificada”, representa perigo às abelhas, principalmente para as sem-ferrão.

Finalmente, vale a advertência do Prof. Warwick Kerr em “Abelha Uruçu: Biologia, Manejo e Conservação”, Belo Horizonte/ 1996: “Diante da destruição acelerada das matas é imprescindível a elaboração de programas de conservação. Se houver um firme objetivo de preservar e restaurar as árvores nativas brasileiras, faz-se necessário preocupar-nos seriamente com a polinização de suas flores. Estudos sobre biologia das abelhas polinizadoras, manejo e especialmente reprodução controlada e divisão de suas colônias se tornam informações essenciais para quaisquer medidas a serem adotadas em tais programas de conservação.

A meliponicultura, ou seja, a criação de meliponíneos (abelhas sem-ferrão), é uma atividade humana que contribui para a conservação das abelhas e de seu habitat – já nos ensinavam os diversos povos indígenas que primeiro domesticaram estes insetos sociais.”

Por tudo isto, concluímos que a criação de abelhas é recomendável na luta de todos para salvarmos o nosso planeta. É urgente que nos deixemos guiar por estes bichinhos e mudar a orientação da produção de alimentos no mundo.



Casa da Cultura do Urubuí / Presidente Figueiredo. 12 de junho de 2012
Egydio Schwade

Comentários

  1. As abelhas são responsáveis pela fabricação de um dos alimentos mais saborosos e saldáveis. Hoje, necessitamos de alimentos, que a sua produção não cause dano à natureza. As abelhas, só contribuem para uma flora e ambiente benéfico aos seres vivos. Este é mais um texto importante para nós e nossos filhos. Um grande abraço Sr. Egydio.

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  2. Sr. Egydio. Para nós homens modernos, temos nas abelhas uma exemplo de sustentabilidade. Pois as mesmas vivem em uma relação onde não há nenhuma forma de agressão e pelo contrário contribui para o crescimento da nossa flora. Que bom se percebêssemos que a própria natureza está lutando para manter-se viva e as abelhas são agentes desta luta.Obrigado pelo texto. Um abraço.
    Luciano Sá

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