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Mostrando postagens de março, 2011

Contaminação Pelo Mercúrio: sigilo e omissão

Uma bomba de efeito retardado será acionada no dia que serão fechadas as comportas do Jirau. Com a alagação de antigoslocais de garimpo da margem direita do rio Madeira, toneladas de mercúrio serão levadas até o leito do rio, agravando a contaminação existente. Na década de 1980, centenas de dragas contaminaram diretamente o leito do rio Madeira. O metal transformado em metilmercúrio é absorvido pelo plâncton e chega até o homem que se alimenta de peixe, através da cadeia alimentar. O peixe não tem fronteiras e percorre centenas, até milhares de quilômetros. Estudos científicos realizados na década de 1990 e cujos resultados foram publicados nos cadernos da Fiocruz, em 2003, comprovam que a população indígena do município de Guajará-Mirim, cuja dieta principal é o peixe, tem um teor de mercúrio acima do tolerado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Foi relatado o caso de uma criança cuja taxa de mercúrio atingiu 20 vezes o valor limite. As consequências na saúde são gravíssimas. O

O Minério Radioativo do Amazonas e as Usinas Atômicas Japonesas

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Presidente Figueiredo, Amazonas, 1992: estávamos construindo a Casa da Cultura do Urubuí. Doroti, eu e as crianças ajudávamos na cobertura de cavaco. Há nossa frente, pela BR-174, roncavam caminhões carregados de minério procedentes da mina do Pitinga. Oficialmente as carretas levavam apenas cassiterita ou estanho. Em verdade, carregavam diversos minérios estratégicos, todos bem mais caros do que o estanho: ítrio, tântalo, colúmbio, urânio, criolita, ouro. A BR-174 tornou-se mais uma “veia aberta da America Latina”. O diretor do setor mineral do Mercado Comum Europeu garantia em reunião em Duisburg / Alemanha / 1991 que todo o minério do Pitinga estava sendo vendido no mercado negro, confirmando conclusão a que o geógrafo e pesquisador da UFAM, José Aldemir de Oliveira chegou em sua tese de doutorado intitulada: “Cidades na Selva”. A área da mina do Pitinga, 526.000 hectares, foi invadida pela Paranapanema em 1979 e roubada pelo Governo Figueiredo do povo indígena Waimiri-Atroari em 19

Colômbia: Tragédia, Alegria e Esperança

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Há décadas a Colômbia sofre por conflitos armados iniciados com guerrilhas que propunham uma transformação política em favor do povo menos favorecido. Contraditoriamente hoje, somados e articulados a conflitos alimentados pelo narcotráfico e a mineração, os confrontos armados afligem, massacram e camuflam a supressão de direitos, especialmente das populações mais humildes. Em meio a tragédia dos conflitos, o povo colombiano, alegre e acolhedor, resiste e planta sementes de esperança. Somente no departamento do Chocó, localizado na costa pacífica colombiana, mais de uma centena de pessoas, 25 a 30% da população desta zona, a maioria camponeses, indígenas e afro-colombianos, foram expulsas de seus locais de origem e lutam para sobreviver longe de suas casas, quase sempre na periferia das cidades. Em todo o país os dados oficiais divulgados pela TV local falam de mais de 400 municípios que vivem sob risco permanente de confronto entre os diversos grupos armados. Grupos guerrilheiros h

Vida e História de Dorotí: Texto 5

Doroty Alice Müller: Um Sorriso para a Vida A Figura forte e sempre presente de nossa querida Dorô nos traz à lembrança momentos de sua trajetória marcante. Ela chegou à OPAN em 1974, para um estágio numa vila operária, próximo a Porto Alegre RS. No ano seguinte foi destinada ao Projeto Novo Horizonte, MT, onde a equipe estava ultimando sua atuação à frente de uma escola, pois a decisão era entregar a escola à comunidade local. Em 1976 Dorô já está no Projeto Acre e Purus, onde com um grupo da OPAN (Rosa Monteiro e Darci Secchi) e da TVC (Marta Callovi e Giovanni Cantu), realizaram os primeiros levantamentos dos povos Kulina, Kaxinaua, Jamamadi e Apurinã, nos rios Purus e Envira, com apoio das paróquias locais. Eram os primeiros movimentos de constituição do Regional do CIMI, quando Dorô foi escolhida para integrar a equipe de coordenação da pastoral indigenista do CIMI. No ano seguinte, a atuação se estendeu para a região de Lábrea e Humaitá, procedendo a um levantamento que inclui o

Mineração em Terras Indígenas

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A 12ª Reunião Ordinária da Comissão Especial de Mineração acaba de ocorrer em Brasília e, como de costume, estavam convidados apenas os interessados na aprovação do Projeto de Lei do Senador Romero Jucá que autoriza a mineração em terras indígenas. O Amazonas foi representado pelo Dep. Estadual Sinésio Campos (PT/AM), sempre mais sintonizado com o poder e seus interesses e cada dia mais distante da causa do povo pobre e espoliado. Presente também o secretário de Geodiversidade e Recursos Hídricos, Daniel Nava, que não perde oportunidade de levar a proposta da mineração em áreas indígenas, mesmo que seja sob vaias, como ocorreu na 1ª. Conferência Nacional de Meio Ambiente em Brasília / 2004. Bonifácio Baniwa representou a Secretaria de Assuntos Indígenas, uma criação do Governo do Estado para amolecer a resistência dos povos indígenas, desde 1500 roubados e prejudicados com a mineração em suas terras. Gostaria de lembrar a esses companheiros, defensores do projeto de Lei sobre mineração

O Tsunami da Fome nas Aldeias do Mato Grosso do Sul

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“Se é para salvar o planeta deve ser sério. E primeiro terá que salvar os milhares de Indígenas que estão sendo massacrados em nosso estado.Eles, os Povos Indígenas sejam de que tribo forem, são originais e não serão jamais peças de atração exótica”(Silvio da Silva – CRB-MS). “Este ano a FUNAI ainda não entregou cesta básica. São quase três meses de fome e espera”. O clamor chega das diversas aldeias e acampamentos indígenas do Mato Grosso do Sul, e em especial dos Kaiowá Guarani, da região de Dourados. O grito da fome como ondas gigantes vai se propagando pela região. Em carta encaminhada ao Ministério Público de Dourados e FUNAI, o Conselho da Aty Guasu manifesta sua enorme preocupação e alerta “Nosso povo está passando muita fome, não por culpa nossa, mas porque tiraram nossas terras, acabaram com nossa possibilidade de produzir nosso alimento, e agora estamos nos braços da fome e da dependência. E o mais grave, como não recebemos ainda nenhuma cesta básica este ano, nossas crianças

Violência Contra o povo Kiña

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2000 Waimiri-Atroari Desaparecidos Durante a Ditadura Militar – Texto 2 Quando chegamos à aldeia Yawará dos índios Kiña ou Waimiri-Atroari / Sul de Roraima, no dia 4 de setembro de 1985, a casa destinada a nós professores, estava ocupada pelo chefe de posto da FUNAI, por isso, fomos encaminhados para uma casa velha que servia de depósito para material descartado. Mas era uma peça histórica importante. Foi a primeira casa do posto, construída por volta de 1975, quando a picada da estrada BR-174 se aproximava daquela região. Testemunha da ocupação bélica do território índio. Contamos 18 furos nas paredes externas, através dos quais se podiam apontar armas de diversos calibres em todas as direções. E a casa que servia de almoxarifado da FUNAI, tinha as mesmas características. Tratava-se de verdadeiras trincheiras. Neste ambiente desencadeamos o processo de alfabetização em Kiñayara , língua do povo Waimiri-Atroari ou Kiña , como se autodenominam. Sem conhecimento da língua, eles iniciaram

Vida e Histórias de Doroti Schwade: Texto 4

Minha querida irmãzinha de sangue e de vivências Ela nasceu em 08 de maio de 1948, exatamente um ano e quatro dias depois do meu próprio nascimento. É claro que não lembro, pois era um bebê. Porém, tenho lampejos de lembranças a partir de seus dois anos de vida. Ela e Sálvio, nosso irmão primogênito, de uma família de sete filhos, nascido um ano e meio antes de mim, portanto dois anos e meio antes de Doroti, eram, ao mesmo tempo, meus opostos e meus alter-egos. Pois se aventuravam pelos bosques, morros e árvores ao redor de nossa casa. Eu, às vezes era a “boazinha”, palavra de nossa mãe, que já embalava no berço nossa quarta irmã, Regina. Quando não suportava mais essa prisão infantil corria atrás deles e, buscando toda a coragem de um corpo infantil, subia uma árvore, no entanto, não conseguia mais descer e me recordo como Doroti e Sálvio tentavam me ajudar. Às vezes, perdiam muito tempo, tentando. Ao final, desisti e nunca mais subi em uma árvore. Outro episódio, ao qual me lembro b

Caso Cacique Veron: Os condenados absolvidos

Diante das distintas avaliações do julgamento de três dos participantes da crueldade, com requinte de operação militar, desencadeada contra a comunidade Kaiowá do tekohá Takuara, no município de Juti-MS, nos dias 12 e 13 de janeiro de 2003, gostaria apenas de fazer algumas observações. O que estava em julgamento era um crime e muito mais. Estava na cadeira de réu uma história secular de impunidade e violência. Estava na cadeira dos réus muito mais do que três peões de fazenda que aceitaram exercer a função de pistoleiros e assassinos de índios. Estava na cadeira dos réus o preconceito, o racismo, a discriminação que alimenta o ódio das elites econômicas e políticas da região, se espalhando como praga nas mentes e corações de milhares de cidadãos que continuam negando aos índios seus direitos mais elementares de ser, de viver, de ter sua terra. Estavam na cadeira dos réus dezenas de assassinatos de lideranças indígenas, cujos executores e mandantes, continuam impunes. Quando a defesa do