Uma “Floresta de Alimentos” inspirada na cultura indígena

Notícia publicada originalmente no sítio da UEA (08 de Outubro de 2009)

Filho de um gaúcho com uma catarinense militantes do movimento indigenista, nascido em Itacoatiara, o agricultor Maurício Adu Schwade cultiva uma área em Presidente Figueiredo em que a família pratica uma agricultura de base agroecológica inspirada na convivência com agricultores familiares e comunidades indígenas denominada Floresta de Alimentos. “É um sistema bem diversificado”, explica, baseado na recuperação de áreas degradadas para consumo familiar e comunitário.
O que diferencia esse conceito do que se convencionou chamar de sistemas agroflorestais é o foco. Enquanto os sistemas agroflorestais focam a produção, a Floresta de Alimentos vê o produtor, em primeiro lugar, como uma unidade consumidora, inclusive de bens culturais e sociais. “A natureza é pensada não só como um fornecedor de materiais para o homem, mas como um conjunto desses valores”, diz Adu.
Em Presidente Figueiredo, a família é proprietária de uma área em torno de 50 hectares, em que a área de cultivo mais intenso gira em torno de 4 hectares, que foi recuperada com experiências de fruticultura, criação de abelhas, aqüicultura. “É um local que a gente nem encara propriamente como um espaço particular. É um espaço coletivo de aprendizado”, define. Mel, frutas, geléias estão entre os produtos comercializados pela família. Mas o grosso da produção, seguindo a tradição indígena, é objeto de trocas, intercâmbio e manacu – tipo de troca em que se dá algo para receber outro bem em outro momento.
A experiência foi apresentada no Seminário de Construção do Conhecimento Agroecológico, que está sendo realizado em Parintins em paralelo ao II Seminário de Agroecologia do Baixo Amazonas. O evento é realizado pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Embrapa Amazônia Ocidental e Associação Brasileira de Agroeocologia. Enquanto aguardava o momento de apresentar sua experiência, Adu assistia à palestra da pesquisadora Sandra Noda. Ao falar sobre o histórico da agricultura familiar no Amazonas, Noda lançou um desafio para os acadêmicos da UEA: identificar como se dará a transição da agroecologia na Amazônia das Águas.
O evento está sendo realizado até esta sexta, 9, no Centro de Treinamento Dom Archângelo Cerqua, localizado às margens do lago Macurany, em Parintins, e trouxe ao município produtores toda a Amazônia, de municípios vizinhos e da zona rural de Parintins. Manuel Barbosa, morador da comunidade de Santa Maria do Uarituba, um típico agricultor familiar da região, todos os meses traz o excedente da produção de uma pequena propriedade de 3 hectares para o mecado local. E os produtos da ordem do dia são o feijão, a macaxeira e o abacaxi. Com uma família de 11 pessoas para sustentar, ele veio conferir as novidades e, se possível, levá-las para a comunidade. "Muitas vezes a gente trabalha errado a produção da terra”, explica o agricultor.
Orgulhosa do filho, aluno do curso de agroecologia da UEA, a dona de casa Rosa Alves Ferreira, moradora da Vila Amazônia, também veio em busca de novidades para seus vizinhos. "É importante a gente aprender alguma coisas e passar para eles", conta.

Foto (1) Maiká Schwade, 2010
Foto (2) Gil e Nádia, 2010

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