Caixa para Criação de Abelhas Indígenas Modelo Cacuí

Nos quase 20 anos cultivando abelhas nativas na Amazônia e partilhando conhecimentos com indígenas e camponeses, temos procurado constantemente criar e estimular o desenvolvimento de modelos de Caixas adaptadas a cada espécie. Nesse processo já desenvolvemos alguns modelos que consideramos eficientes para o cultivo de diversas espécies de abelhas sem ferrão. Neste pequeno texto queremos apresentar o Modelo Cacuí, que temos utilizado no cultivo de abelhas do gênero Duckeola, em especial, mas que também se mostrou muito prática para abelhas do gênero Melipona, Scaptotrigona e algumas outras abelhas que constroem favos horizontais.

Este modelo é composto por compartimentos sobrepostos que tem o mesmo formato. A única particularidade na estrutura básica dos compartimentos é que um deles apresenta um orifício para entrada das abelhas. No mais todos têm as mesmas dimensões. O tamanho dos compartimentos pode variar de acordo com a espécie de abelha. Aqui vamos explicar o modelo a partir das medidas que temos utilizado com mais freqüência e que é o ideal para Duckeola ghilianne. Cada compartimento mede internamente 20cm de comprimento e também 20cm de largura. Como utilizamos madeira de 2,5cm de espessura, as medidas externas de comprimento e largura ficam em 25cm. A altura dos compartimentos deve ser em torno de 7cm para facilitar o manejo.

Em duas laterais opostas de cada compartimento é feito um pequeno friso de aproximadamente três milímetros (0,3cm) onde se encaixam sarrafinhos. E é justamente neste sistema de sarrafos encaixados que se encontra “o pulo do gato”, como se diz no dito popular. Do friso de um lado da caixa até outro na lateral oposta se põem sarrafinhos em quantidade e disposição diferentes, de acordo com a necessidade ou a função que se deseje que o compartimento exerça.

Para estar completa a caixa ainda é composta de tampa e fundo que tem a mesma forma, medindo 25 por 25 centímetros. No lado que fica para fora da caixa é conveniente pregar dois sarrafos em extremidades opostas e em sentido contrário a fibra da madeira da tampa e fundo para evitar que esta empene e para servir de suporte.

Ainda no caso de abelhas Duckeola ghilianni a caixa é composta da seguinte forma: Sobre o fundo normalmente se põe o compartimento com o orifício de entrada, embora isso não precise ser tomado como regra geral. Neste primeiro compartimento põe-se de dois a três sarrafinhos na parte superior. Os dois ou três seguintes compartimentos normalmente abrigarão o centro do ninho, onde as abelhas depositarão suas crias. Nestes compartimentos normalmente se põe três sarrafos na parte de baixo do compartimento e dois na de cima. Nos andares superiores frequentemente serão depositadas as principais reservas de mel. Por isso é onde o meliponicultor fará a maioria das coletas. Nestes compartimentos se colocam até quatro sarrafinhos embaixo, que servirão de suporte para os potes de mel e dois na parte superior. No entanto muitas vezes as Duckeola não dispõem desta forma seu ninho.

É comum encontrarmos as crias nos compartimentos superiores. Neste caso a ordem dos compartimentos pode ser mudada. A recomendação é de que onde estão as crias os compartimentos sejam com dois ou três sarrafos embaixo e onde está o mel quatro. Esta disposição facilita o manejo. De todas as formas se as abelhas utilizarem compartimentos de mel para cria não haverá grandes dificuldades para o manejo. É importante nunca se esquecer de colocar pelo menos dois sarrafos em cada compartimento.

Os compartimentos devem ser acrescentados preferencialmente apenas quando os demais já estiverem ocupados. Temos utilizado até 7 (sete) compartimentos para as colméias mais fortes de Duckeola.

Para abelhas do gênero Melípona utilizamos o orifício sempre no compartimento inferior. Neste compartimento pomos apenas dois sarrafos na parte superior. O compartimento seguinte leva normalmente dois sarrafos na parte inferior. Para Melípona Fulva, a Melipona que mais cultivamos, normalmente, estes dois compartimentos são suficientes. Porém, pode-se pôr um terceiro compartimento sobre os demais com quatro sarrafos em sua parte inferior que será utilizado como melgueira.

Alguns amigos nossos estão utilizando este modelo para outras espécies de Melipona, inclusive para Melipona seminigra. Para esta se utiliza até cinco compartimentos sendo o primeiro com orifício de entrada e sem sarrafos; o segundo e terceiro com dois sarrafos na parte de baixo e dois na parte de cima, como sobreninhos; e o quarto e quinto com quatro sarrafos embaixo, como melgueira. O processo de manejo ocorre da mesma maneira que com a caixa desenvolvida por Fernando Oliveira e utilizada pelo Instituto de Pesquisas da Amazônia – INPA. Porém vemos como vantagens na caixa Cacuí o fato de as abelhas terem menos obstáculos para se locomoverem no interior da colméia, ser mais fácil de construir e facilitar a acomodação do ninho quando de transferências da natureza, como explicaremos adiante. A colocação correta dos sarrafos nos sobreninhos permite realizar desdobramentos da mesma maneira que se faz com o modelo Fernando Oliveira.

Nas transferências da natureza, esta caixa permite ajustar o espaço interno para não ser necessário desmanchar a estrutura do ninho das abelhas. Neste procedimento deve-se sempre por sarrafos no compartimento de baixo para que os favos transferidos não fiquem em contato com o assoalho da caixa. Isso, mais o cuidado para não danificar os favos de cria, minimizam muito os riscos de ataques de forídios. Com a utilização deste sistema os forídios praticamente não têm representado riscos.

Recomendamos que sempre que possível se utilize madeira de grande durabilidade e que esteja seca.

Esperamos que cada vez mais pessoas se interessem por cultivar abelhas indígenas sem ferrão, criem novas tecnologias apropriadas e as divulguem, colaborando assim para a manutenção da biodiversidade amazônica e para a saúde e alegria de todos.


Casa da Cultura do Urubuí, 30 de maio de 2011

Maurício Adu Schwade

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