Visita aos Waimiri-Atroari Ainda é Incerta
Comissão Nacional da Verdade, que investiga violações contra direitos humanos durante a ditadura, planeja vir ao Amazonas
Originalmente publicada em ACrítica.com
Por Elaíze Farias
Há três meses, a Comissão Nacional da Verdade criou uma comissão específica para investigar violações contra os índios do povo suruí, cuja terra está localizada no Pará, durante a ditadura militar. A psicanalista Maria Rita Kehl, que integra a CNV, já iniciou os diálogos com os jovens que vão ajudá-la nessa investigação, colhendo depoimentos dos indígenas suruí mais velhos.
Euzivaldo Queiroz, 2013 |
Não faço parte do comitê no Amazonas da CNV, mas tenho acompanhado os debates, as deliberações dos seus integrantes, bem como as notícias referentes a estes debates. Uma dessas notícias era (ou é, depende ainda de decisões a serem tomadas) que Maria Rita Kehl viria a Manaus neste mês de fevereiro. O roteiro incluía reuniões em Manaus, em Presidente Figueiredo e, claro, em uma das aldeias do povo waimiri-atroari. A data prevista da visita estava marcada para os próximos dias 22 e 23.
Soube na semana passada que esse cronograma não está confirmado. O plano esbarra na dificuldade de organizar até o dia 22 os representantes das 30 aldeias waimiri-atroari, segundo explicações do coordenador do Projeto Waimiri-Atroari (PWA), Porfírio Carvalho, dado à CNV.
Sendo assim, há agora um impasse se essa reunião e a visita de Maria Rita deste mês vão ou não acontecer. A outra alternativa é aguardar final de março, que é quando poderá ocorrer uma grande reunião de todas as aldeias waimiri-atroari.
Dois parênteses. Para quem não sabe, o PWA é quem coordena as ações junto aos waimiri-atroari – e não a Fundação Nacional do Índio (Funai) – desde os anos 80. O PWA é um programa da Eletronorte criado para compensar os imensos impactos sociais e ambientais causados na terra dos waimiri-atroari pela Hidrelétrica de Balbina.
Desde então, qualquer contato com os waimiri-atroari é feito por meio do PWA. Eu mesma não sei como é essa relação. Nunca entendi. Das vezes que tentei (sem sucesso) ir na aldeia dos waimiri-atroari os contatos sempre foram PWA e não Funai. O acordo de criação PWA foi firmado para durar 25 anos, prazo que se encerra, aliás, neste ano de 2013. A Eletronorte ainda não informou se vai renovar.
Esperemos que as notícias sobre os crimes da ditadura junto aos waimiri-atroari não fiquem apenas nos relatos descritos nos texto de Egydio Schwade e outros indigenistas que conheceram aquela realidade.
Corre uma versão que os waimiri-atroari não estão muito empolgados em falar sobre este período. Que, segundo consta, eles não estão animados para não desenterrar esse assunto. Pode ser. E pode não ser. Para tirar qualquer dúvida, o ideal seria perguntar dos próprios. Para que tudo se esclarece, que não permaneça oculto ou abafado. Se eles não querem falar, é melhor saber diretamente deles. E não apenas de uma aldeia ou de um grupo. Mas de todos.
Enviei um email para o Porfírio Carvalho para que ele responda sobre a dificuldade de reunir representantes das aldeias para o dia 22 e a reunião do final de março. Assim que ele responder, acrescentarei neste texto.
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