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A Amazônia não comemora regime genocida

Uma das principais marcas das ditaduras no mundo é a política genocida. Com a ditadura militar instalada no Brasil em 1964 não foi diferente. Ela deixou marcas profundas na Amazônia. A mais terrível dessas marcas foi o genocídio cometido contra povos indígenas.  Percebendo a necessidade de revelar essa história da ditadura militar no Brasil, para que nunca mais se repita, o Comitê Estadual de Direito à Verdade, à Memória e à Justiça do Amazonas pesquisou e publicou um relatório sobre o genocídio cometido contra o povo Waimiri-Atroari.  Durante a construção da BR-174, os Waimiri-Atroari foram trucidados. Com uso do aparato militar disponível na época, o povo Waimiri-Atroari sofreu massacres que o reduziu a apenas 332 pessoas, a maioria jovens e crianças. Esse senso realizado em 1982, pelo pesquisador Stephen Baines, corresponde a somente 13% do que as estimativas oficiais da FUNAI indicavam no início dos trabalhos de construção da rodovia. Para entender o que ocorreu naquel

Colégio Cristo Rei – São Leopoldo – 1967

Revmo. Pe. Geral Pe. Pedro Arrupe Pax Christi! Somos escolásticos, estudantes de Teologia. Trabalhamos – durante o nosso Magistério – três anos na Missão Anchieta de Diamantino, Mato Grosso. E é do trabalho daquela Missão e em particular do trabalho entre os indígenas e da situação dos indígenas do Brasil que queremos informar à V. Paternidade. Queremos fazê-lo com toda a sinceridade, procurando referir pontos, que nossos estimados superiores, pelo acúmulo de trabalhos talvez, às vezes, se esqueçam de referir à V. Paternidade, mas que afetam – no nosso entender – muito a orientação da Companhia. Parece-nos, P. Geral, que há um desajuste radical nos critérios segundo os quais se destinam os nossos aos trabalhos de evangelização em povos estranhos. Queremos falar da experiência que vivemos em nossa querida Missão Anchieta. A generosidade, que julgamos ser a estrada geral do Espírito Santo para as almas, e delas para a cristianização do mundo, ficou esquecida e desrespeit

THOMAZ MEU COMPANHEIRO DE CAMINHADA MISSIONÁRIA

Embora substituísse Thomaz Lisboa em 1963 no campo de trabalho, onde passou todo o ano anterior, não pude me encontrar com ele antes de assumir o seu trabalho, na Prelazia de Diamantino, onde como estudantes jesuítas fizemos a nossa primeira experiência indigenista, só vim a conhecê-lo alguns meses depois. Vivemos os dois anos que se seguiram naquela missão, completamente isolados, sem juntos podermos avaliar as nossas experiências. O isolamento era uma das características em que viviam principalmente os estudantes jesuítas naquele tipo de missão, embora a decisão que nos levou ali era geralmente a mesma. Surgirá na vivência da família e no discernimento dos Exercícios Espirituais de Inácio de Loyola, e, naquele momento histórico, foi encorajada pelas orientações do Concílio Vaticano II, que nos dizia que ser preciso mudar a estrutura da Igreja Missionária, para que os povos indígenas pudessem sobreviver e participar com seus valores na construção de um mundo mais humano. Thomaz che

Rezar por quem?

Dia 13 de março de 2016, domingo, no final da missa, o padre pediu orações pelo sucesso dos manifestantes daquele domingo, segundo ele, “foram às ruas para combater a corrupção”. Infelizmente não foi a corrupção que moveu esses manifestantes, mas um golpe para afastar do cenário nacional o Partido dos Trabalhadores, o único que até hoje combateu efetivamente a corrupção em nosso país. Para provar que a corrupção era galopante antes dos dois governos do PT, não precisa ir longe. É só adentrar a História e a pré-história do nosso município nesta BR-174. A construção da BR-174, durante o governo da ditadura militar, originou o município de Presidente Figueiredo e também a paróquia dos Santos Mártires e Nossa Senhora Aparecida, assim denominada pelo bispo D. Jorge Marskell, em memória ao genocídio dos índios Waimiri-Atroari, cometido pelo governo durante a construção da rodovia. Nem haviam matado todos os índios, quando o mesmo governo ditatorial entregou grande parte do territóri

Relatório alerta para as consequências da extinção de polinizadores

Um número crescente de espécies de animais polinizadores está ameaçado de extinção em todo o mundo em decorrência de fatores como mudança no uso da terra, uso indiscriminado de pesticidas e  alterações climáticas. A reportagem é de Karina Toledo, publicada por Agência FAPESP, 01-03-2016. Caso não sejam adotadas medidas para reverter o quadro, as consequências para a economia global, a produção de alimentos, o equilíbrio dos ecossistemas e a saúde e o bem-estar humanos poderão ser desastrosas. O alerta foi feito por especialistas da Plataforma Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos(IPBES) no relatório “Polinização, polinizadores e produção de alimentos”, divulgado hoje durante a 4ª Sessão Plenária da IPBES, em Kuala Lumpur, na Malásia. O processo de elaboração do documento foi coordenado ao longo dos últimos dois anos pelo britânico Simon G. Potts, professor da Universidade de Readings, no Reino Unido, e pela brasileira Vera Lucia Imperatriz Fonsec

Quando a cidade é o campo

José Aldemir de Oliveira Professor da Universidade Federal do Amazonas É difícil não ser contaminado, nestes tempos sombrios, pelas ações, ou tentativas  delas, do desgoverno federal que se implantou com o golpe. É a escolha do ministro do STF, embora neste caso o escolhido esteja à altura (bem pequeno) tanto de quem escolhe como a que se destina. É a reforma do ensino médio recém sancionada que reserva papel secundário a várias áreas do conhecimento, em especial à Geografia, um saber fundamental para a compreensão dos problemas contemporâneos. É a tentativa de blindar ministros e políticos, e a mais recente, a reação do coronel freire inquilino do ministério da cultura, ao discurso do escritor Raduan Nassar. Muitas vozes não calaram e outras estão se levantando por ainda acreditarem que uma sociedade organizada é o primeiro passo na garantia da democracia e que esta não pode se resumir aos primados das maiorias eventuais, especialmente quando são construídas a partir de mei

MEIO AMBIENTE E GRILAGEM DE TERRAS NA AMAZONIA

É preciso que a gente conte e reconte os fatos que levam à corrupção e à violência na Amazônia, talvez um dia se afaste o poder que os cria e mantém. Em 1967 a Ditadura Militar criou a Lei dos Incentivos Fiscais. Uma de suas consequências foi a organização de gruposespecializados em grilagem de terras da Região Amazônica. Sobrevoavam vastas regiões, geralmente terras indígenas e as “demarcavam” em lotes de 3.000 há. Era o máximo que uma firma ou indivíduo podia se reservar, por lei, para aplicar os impostos que devia ao povo brasileiro. Foi assim que surgiu a chamada “grilagem paulista”, porque em boa parte os beneficiários eram industriais ou comerciantes sulistas, em sua maioria, paulistas, interessados em sonegar os impostos. De fato, mais de 90% sequer chegou a visitar o seu lote. Só neste Município de Presidente Figueiredo, onde resido, o Governo do Estado registrou em 1971, 266 lotes de 3.000 ha. cada, para “paulistas”. Sobre um destes lotes formou-se, em 1999 uma comu