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Mostrando postagens de outubro, 2011

Doroti Schwade: Andanças e Ação de 1976 a 1978

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“...os índios viajaram dois dias por igarapés, igapós, chavascais arrastando canoa, com o pessoal doente – eu inclusive participei desta viagem e ajudei a puxar canoa – tudo para receberem a esmola de uma consulta médica. No entanto, o médico não compareceu – e pelo que acabei de saber, o canalha estava numa festa que os “grandes” da cidade promovem de 15 em 15 dias. Festas em suas casas para não se misturarem com a “ralé” que freqüenta o clube’’ – desabafou Doroti de Surucuá / Lábrea, Rio Purus no dia 9 de maio de 1977. Doroti veio para a Amazônia em 1975, através da Operação Anchieta - OPAN, hoje Operação Amazônia Nativa. Após trabalhar um ano como professora em Novo Horizonte - Noroeste de MT, em inícios de 1976, foi escolhida coordenadora do Conselho Indigenista Missionário da Amazônia Ocidental (CIMI), que compreendia então o Acre e as dioceses de Humaitá e Lábrea no sul do Amazonas. A enorme extensão do território não intimidou Doroti a ir à procura de remanescentes de povos in

Carta Aberta aos Deputados Estaduais e Vereadores de Manaus

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Srs. Deputados Estaduais do Amazonas e Vereadores de Manaus. Sempre que me dou conta que tanto eu como a maioria dos moradores do interior do Estado deram seu voto para algum cidadão, morador da metrópole e vou a Manaus de ônibus, me revolto contra o Governador do Estado, o Prefeito de Manaus e todos os deputados estaduais e vereadores de Manaus pelo estado em que se encontram os serviços que de uma ou outra forma deveriam servir os moradores do interior. Antes mesmo de chegar ao destino, ou seja, à rodoviária de Manaus, já começa a indignação. Ano entra, ano sai, o ônibus em que viajo precisa fazer uns dois quilômetros em direção ao centro congestionado, ou seja, até a bola do Parque 10 e dar ainda três voltas em torno da rodoviária, para só então ser autorizado a estacionar. Chegando, finalmente, ao estacionamento procuro os banheiros. Senhores deputados e vereadores, não vou descrever a situação dessa área. É vosso dever visitá-la pelo menos uma vez durante a vossa gestão. Sem

O ESTADO E A LEI DA IRREVERSIBILIDADE

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O Estado como nos administra hoje nasceu na bota. O posicionamento das autoridades de Estado em pouco mudou do Império Romano até os nossos dias o que força a humanidade a pensar, com urgência, em criar novos paradigmas para sua convivência e organização. O Estado jamais abriu mão da integração de todos os povos ao modelo concebido em Roma, rompendo com ricas caminhadas populares em todas as partes do mundo. O senador Sêneca terminava todos os seus discursos no Senado Romano com essa frase: “Ceterum censeo Cartaginem delendam esse!” (De resto eu penso, Cartago deve ser destruída). Os Cartagineses eram uma etnia, um povo, do Norte da África que tinham modo de vida próprio que incomodava o poder romano. Pensavam e agiam a sua maneira, diferente dos cidadãos romanos. Foi-lhes proibido viverem assim, diferentes. Mas não necessitamos evocar os discursos dos ditadores clássicos, de Júlio César a Hittler, passando por Napoleão Bonaparte, nem os mais duros regimes ditatoriais, que vão do roma

POR QUE CIDADANIA E NÃO PAGANIA?

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Ao longo de 49 anos de convivência e apoio aos povos indígenas e agricultores, vi e senti a felicidade aflorar com mais freqüência nas aldeias interioranas do que nas cidades e metrópoles e tenho me perguntado com freqüência: por que cidadão e não pagão? Por que esta ânsia de transformar toda a gente em cidadão? Cidadão é o homem da cidade e pagão o homem do pago, do campo. É provável que o conceito “pagão” no seu conteúdo atual se tenha originado do conflito cidadão-cristão e se popularizou no Estado Romano opressor como preconceito contra os cristãos para quem a terra era refúgio da autonomia, de um modo de vida fraterno, enraizado na terra e sobre a consciência das pessoas, sugerido como programa de vida por Jesus de Nazaré. Da distribuição fraterna dos bens produzidos na terra se alimentavam e a terra era o seu abrigo nas perseguições e para as celebrações. Durante 313 anos a utopia da fraternidade lhes foi garantida pelo pago, pela terra. Da terra tiravam ainda o sustento e nela

Doro: uma Chama Viva

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Vida e Histórias de Doroti Schwade: Texto 12 O que posso escrever de Doro? Tantas coisas! Gostaria de relacionar algumas delas a seguir, como meu sacramento do Crisma para o qual, na época, Doroti e Egydio eram responsáveis pelo catecismo preparatório. Ela sempre dizia “essa é a hora em que vocês estão confirmando o batismo, confirmando a fé em Deus”  Era realmente a nossa hora, a hora de firmar o nosso compromisso com Deus e com os menos favorecidos. Os Encontros, os Retiros, eram uma explosão de conhecimento de fé, de elucidação de experiências comuns como, por exemplo, saber a importância da água, a água que é um fator importante pra vida humano nesses Retiros na zona rural. A água era importante para o banho, para beber e também pra a preparação dos alimentos; O fogo; as refeições eram feitas através de um fogo a lenha no chão, um pequeno braseiro. O feijão cozido ali naquele momento tornava a comida mais saborosa, pois ela envolvia-nos em diversas questões onde até o fogo man